O avanço da genética espalha benefícios por vários setores. As novas pesquisas viabilizam terapias para corrigir genes defeituosos, realizam clonagem de seres extintos e até solucionam crimes pendentes há décadas.

 

Desde que se tornou possível localizar, isolar, sequenciar e clonar genes, tem havido uma explosão nas pesquisas para descobrir as funções de cada uma dessas partículas dos cromossomos. Os benefícios potenciais para diagnósticos e terapias são imensos, abrindo a porta para terapias personalizadas que podem, por exemplo, atacar a forma precisa do câncer de um dado paciente. A primeira tentativa de terapia genética humana começou nos EUA, em 1990. Seu objetivo era entregar o gene corrigido para células afetadas por um gene defeituoso. O paciente era uma menina de 4 anos com defi ciência de adenosina deaminase (ADA), doença que a deixava indefesa contra infecções. Glóbulos brancos retirados da paciente receberam os genes normais para fazer a ADA. Os genes corrigidos foram, então, reinseridos nas suas células usando um vírus como portador. Hoje, a menina e outra paciente tratada da mesma forma levam uma vida normal.

Vários recém-nascidos com deficiência de ADA também receberam genes normais por meio de células sanguíneas retiradas de seu cordão umbilical. Há diversos obstáculos a ser superados antes que esse tipo de terapia funcione em longo prazo. Enquanto isso, as tecnologias para obter o perfil do DNA têm melhorado tanto, nos últimos anos, que agora é possível sequenciar amostras minúsculas, incompletas ou velhas. A facilidade de fazer testes genéticos está abrindo novas possibilidades em campos variados como a oncologia, a detecção de crimes e a paleontologia. Em um estudo publicado na revista Nature em julho, a análise do genoma completo de um fragmento de osso de um cavalo pré-histórico, achado no Canadá em 2003 e preservado por 700 mil anos, mostrou que o cavalo moderno, o burro e a zebra surgiram há quatro milhões de anos, dois milhões de anos mais cedo do que se pensava. Ainda mais notável, os pesquisadores trouxeram o íbex-dos-pirineus de volta da extinção em 2009. Eles clonaram um fragmento de pele do corpo do último membro dessa espécie de cabrito-montês e o implantaram em embriões de cabras domésticas, usando as técnicas que criaram o primeiro mamífero clonado, a ovelha Dolly, em 1996. No entanto, a expectativa de Por Peter Coles e Alessandro Allegra. O avanço da genética espalha benefícios por vários setores. As novas pesquisas viabilizam terapias para corrigir genes defeituosos, realizam clonagem de seres extintos e até solucionam crimes pendentes há décadas.

Renascimento vida dos animais clonados pode ser breve. O íbex-dos-pirineus viveu apenas sete minutos, antes de uma infecção pulmonar matá-lo. A ovelha Dolly viveu mais de seis anos, cerca de metade da expectativa de vida normal de um carneiro doméstico. Em 2012, o cientista sul-coreano Hwang Woo-Suk obteve direitos exclusivos para clonar um mamute-lanudo de dez mil anos. Seu laboratório vai usar amostras de tecidos encontrados em uma carcaça congelada na Sibéria, que derramou sangue líquido quando a incisão foi feita. O embrião eventualmente criado será implantado numa elefanta. Em 2013, uma amostra de DNA colhida em uma cena de crime em 1964, nos EUA, ligou um suspeito de assassinatos – o Estrangulador de Boston – à sua última vítima. Embora Albert Desalvo tenha confessado e sido preso por outros crimes, nenhuma prova conclusiva havia sido encontrada. Só 49 anos mais tarde. A análise de DNA também está sendo usada para derrubar condenações, como a do americano Santae A. Tribble, em 2012. Ele foi preso em 1978, aos 17 anos, pelo assassinato de um taxista, e passou 28 anos preso por uma amostra de cabelo que, na verdade, não era dele. Para o geneticista britânico John Burn, o campo emergente realmente emocionante da medicina é a epigenética. O biólogo C. H. Waddington cunhou o termo nos anos 1940, desafiando a ideia de Charles Darwin de que a evolução se dá por meio de seleção natural com base em mutações que ocorrem aleatoriamente nos genes. Sabemos agora que, como Waddington havia sugerido, os genes são “ligados” e “desligados” por fatores ambientais.