As imagens aqui apresentadas apresentadas são parte do projeto de uma rede de ativistas ambientais, a Global Population Speak Out, que clama por ações imediatas por um mundo mais sustentável.

O ano de 2015 tem sido pouco animador para os ambientalistas e, por extensão, para todos nós. Estudos científicos publicados nos últimos meses têm comprovado o que já era sugerido desde pelo menos a década de 1970: a ação do homem tem provocado danos sérios ao planeta. A população humana cresce a índices impressionantes: a cada hora nascem, aproximadamente, 9 mil pessoas. Aumentam também a gravidade e a incidência de problemas como a falta de alimentos, o volume de lixo, a escassez hídrica, o desmatamento e a poluição.


Tanto no Ártico quanto na Antártida, as camadas de gelo estão recuando. Acima, uma geleira derrete em Svalbard, Noruega

Em maio, soou no mundo um dos alertas mais preocupantes, que deverá se impor como um desafio urgente aos negociadores da COP 21, a conferência do clima da ONU que acontecerá em dezembro, em Paris (veja matéria sobre ela aqui). A National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA), agência federal dos Estados Unidos que cuida de assuntos ligados a meteorologia, oceanos, atmosfera e clima, verificou que a concentração média de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ultrapassou a marca de 400 partes por milhão (ppm) pela primeira vez desde o início das medições. O nível considerado seguro é de 350 ppm.


Área central de Barcelona, Espanha, cidade com 5 milhões de habitantes numa área de 91 km2

Outro índice inquietante relacionado ao aquecimento global foi a elevação do nível do mar em um ritmo mais acelerado do que o estimado previamente. Um estudo publicado em maio na revista Nature Climate Change mostrou que desde a passagem do século 20 para o 21, o volume de água dos oceanos não para de aumentar. A hipótese dos cientistas é que esse é um dos efeitos do aumento da concentração de CO2 na atmosfera, assim como a elevação das temperaturas e a maior incidência de catástrofes climáticas.


A aviação comercial é uma das maiores emissoras de gases causadores do efeito estufa. Abaixo, retrato de rastros de aviões no céu de Londres, sobre o rio Tâmisa

 

Excedendo os limites

O cientista sueco Johan Rockström, chefe de um renomado centro de estudos de resiliência do planeta na Universidade de Estocolmo, criou um método para quantificar os danos causados pela humanidade à Terra. Ele estipulou nove limites que precisam ser assegurados para que o nosso mundo continue habitável – pelo menos para as formas de vida como as conhecemos, inclusive a nossa.


Surfista encara um tubo em meio a detritos dos mais variados tipos numa praia da Indonésia

As fronteiras definidas pelo ambientalista dizem respeito: 1) às mudanças climáticas; 2) à extinção das espécies e à perda da biodiversidade; 3) à contaminação de ecossistemas com elementos como nitrogênio e fósforo; 4) ao desmatamento e à degradação da terra; 5) às emissões de partículas como os aerossóis na atmosfera; 6) à diminuição da camada de ozônio; 7) à acidificação dos oceanos; 8) ao uso de água potável; 9) ao despejo de poluentes (plástico, materiais radiativos, etc.) no meio ambiente.


O livro reúne textos e imagens de fotógrafos do mundo todo que retratam os danos causados pelo homem ao meio ambiente e a si próprio. A obra, organizada por Tom Butler, disponível apenas em inglês, pode ser adquirida no site populationspeakout.org por US$ 50

Em janeiro deste ano ele veio a público para dizer que já estragamos as quatro primeiras e caminhamos para fazer o mesmo em relação às cinco restantes. “O planeta tem sido muito hospitaleiro amortecendo nossas ações e sempre mostrou muita resiliência. Mas, pela primeira vez, chegamos a um ponto em que isso deve se reverter e, então, este mundo se tornará inóspito”, disse Rockström na ocasião.


A ONU estima que as cidades produzam cerca de 1,3 bilhão de toneladas de resíduos sólidos por ano. Os padrões crescentes de consumo e a falta de políticas adequadas de tratamento de lixo podem elevar esse número a 2,2 bilhões de toneladas em 2025, o que teria consequências graves para o meio ambiente e a saúde humana. Na imagem, lixão a céu aberto em Bangladesh

A pesquisa de Rockström engrossa o coro dos cientistas que defendem que vivemos uma nova era geológica, forçada pela ação humana: o Antropoceno. O sueco, no entanto, não é alarmista, mas esperançoso. Ele acredita que ainda é possível minimizar as emissões de carbono, por exemplo, impulsionando a agricultura na África, suavizando as perdas da biodiversidade e do desmatamento, e resolvendo o problema da fome na mesma tacada.

Para o cientista, apesar dos sinais negativos, pela primeira vez temos um quadro favorável para o crescimento e para erradicar problemas como a fome e a pobreza. Com mais esforço, acredita, é possível recuperar algumas fronteiras.


Nem mesmo culturas milenares estão a salvo do consumismo e da globalização. Em Alepo, na Síria, antes da atual guerra civil antenas parabólicas eram onipresentes no topo das casas, destoando da arquitetura histórica

 

Mais que palavras

A organização ambientalista internacional Global Population Speak Out, que reúne cientistas, acadêmicos e formadores de opinião, caminha na mesma direção. Para aumentar a consciência da população, ela lançou o livro Overdevelopment, Overpopulation, Overshoot, uma coletânea de imagens de fotógrafos do mundo todo que levam o espectador a refletir sobre a hiperexploração da Terra. As imagens chocam muitas vezes pelo aspecto trágico que retratam, mas também ao capturar a beleza e a singularidade do nosso planeta de ângulos inusitados.


Vítimas do terremoto de 2010 que devastou o Haiti se atropelam na fila de distribuição de alimentos

Em entrevista a PLANETA, Joseph Bish, diretor da entidade, contou que a estratégia tem conseguido despertar a atenção da comunidade internacional, mas que ainda é necessário que a pauta ganhe mais relevância. “Um número crescente de líderes políticos defende a ideia de um crescimento mais ‘verde’ e ‘consciente’, mas ainda não há um único político de estatura no mundo que clame por uma medida importante como a desaceleração da produção econômica”, diz Bish.


O desmatamento na Amazônia voltou a apresentar tendência de alta. Grileiros continuam a queimar florestas e a ocupar áreas com gado para se apropriar de terras

Para ele, embora existam indivíduos preocupados em diminuir suas pegadas ecológicas, o número de pessoas na contramão ainda é preocupante. “O volume de gente que está aumentando sua pegada ecológica através do consumo acaba minimizando o esforço de quem se preocupa com isso”, lamenta. Ao ilustrar o tamanho do problema com fotos como estas, Bish acredita que a instituição pode contribuir mais para o despertar das pessoas. “Como diz o ditado, ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’”, afirma.