Acusado de antissemitismo, ex-membro da banda Pink Floyd vê sua turnê ameaçada no país. Músico afirma exercer liberdade de expressão e pretende entrar com ação judicial.O músico britânico Roger Waters pretende recorrer a tribunais da Alemanha contra o provável cancelamento de dois de seus shows no país devido a acusações de antissemitismo.

Na semana que vem, o conselho da cidade de Munique discutirá um possível cancelamento do contrato para o show marcado para 21 de maio, e pediu ao governo da Alta Baviera uma avaliação jurídica do assunto. Outra apresentação, prevista para 28 de maio em Frankfurt, já foi cancelada.

O cancelamento de seus shows também está sendo discutido nas cidades de Colônia e Munique. Além desses locais, a turnê de Waters na Alemanha prevê apresentações em Hamburgo e Berlim. Na capital alemã, o comissário para antissemitismo e a sociedade teuto-israelense de Berlim-Brandenburgo manifestaram-se a favor do veto, mas até a tarde desta sexta-feira (17/03) ainda havia ingressos disponíveis para as apresentações.

“Meus advogados estão tomando medidas para garantir que meus shows em Munique e Frankfurt em maio de 2023 ocorram conforme acordado contratualmente”, disse o músico, de acordo com o comunicado.

Fala a convite da Rússia e apoiador do movimento BDS

O músico britânico de 79 anos, que é ex-integrante da banda de rock progressivo Pink Floyd, tem chamado a atenção por fazer comparações nazistas, apoiar o movimento de boicote antissemita BDS e dar declarações associadas a teorias da conspiração.

Em 8 de fevereiro, a convite da Rússia e diante do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, ele fez um discurso onde afirmou que, apesar de concordar que o ataque da Rússia à Ucrânia é ilegal, este “não ocorreu sem provocação”. A opinião do músico, segundo ele, representa mais da metade da humanidade. E, dirigindo-se a Kiev, disse que é por isso que condena “também os provocadores, nos termos mais fortes possíveis”, e pediu o fim imediato dos combates.

Essa não foi a primeira vez que Waters falou publicamente sobre a guerra na Ucrânia. Em setembro de 2022, ele acusou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, de “nacionalismo extremo” e apelou para que o Ocidente suspendesse as entregas de armas ao país sob ataque. Como resultado, foi proibido de se apresentar em Cracóvia, na Polônia, sendo declarado persona non grata pela administração da cidade.

O movimento BDS, sigla para Boicote, Desinvestimento e Sanções, defendido por Waters, faz um apelo a músicos, atletas, empresas e políticos que não invistam ou se apresentem em Israel. Em maio de 2019, o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, aprovou uma resolução para combater “resolutamente” o movimento BDS na luta contra o antissemitismo.

“Direito à liberdade de expressão”

A assessoria de Waters nega as acusações de antissemitismo. “Minhas opiniões referem-se exclusivamente às políticas e ações do governo israelense e não ao povo de Israel”, disse por meio de comunicado. “O antissemitismo é abominável e racista, e eu o condeno sem reservas assim como condeno todas as formas de racismo.”

O músico destacou aindas que sentiu que sua liberdade de expressão foi restringida. “É por isso que estou dando este passo para garantir que a vontade de alguns não me impeça de me apresentar em Frankfurt e Munique.”

Em fevereiro, a assessoria do músico qualificou os pedidos para que seu show de Frankfurt fosse cancelado como uma “tentativa flagrante de silenciá-lo”, alertando que a decisão pode ter “consequências graves e de longo alcance para artistas e ativistas de todo o mundo”.

Segundo a cidade de Frankfurt, a decisão deve-se à “postura anti-Israel contínua” de Waters, “um dos antissemitas de maior alcance do mundo”.

Ex-colegas de banda se distanciam de Waters

Em shows passados, Waters soltou balões em forma de porco com uma estrela de Davi sobre eles. Em sua turnê atual, são projetados letreiros que dão a entender que quem gosta do Pink Floyd mas rejeita as suas posições políticas dele deve “ir se f**er (“fuck off”).

Mais recentemente, os ex-companheiros de banda, que aliás se posicionam contra a guerra de agressão russa, também se distanciaram de Waters. Em uma mensagem no Twitter, a escritora Polly Samson, esposa do ex-colega de banda de Waters David Gilmour, chamou o músico de “antissemita” e “apologista de Putin”.

O cancelamento dos shows também é alvo de críticas. Uma petição online afirma que aqueles que cancelaram os shows deveriam “analisar suas próprias histórias de antissemitismo, racismo e genocídio […]”. O manifesto foi assinado por celebridades como os músicos Peter Gabriel e Eric Clapton, o linguista americano Noam Chomsky e a atriz Susan Sarandon.

Fundado em 1965, o grupo inglês Pink Floyd é uma das bandas de maior sucesso da história do rock, com álbuns como The Dark Side of The Moon e The Wall. Roger Waters deixou a banda em meados da década de 1980 e desde então seguiu carreira solo.

ip/bl (afp, dpa, kna, ots)