A invasão da Ucrânia não tem ocorrido exatamente como a Rússia planejava, e nesse caso é importante não sobrecarregar o contingente humano. Imagens de satélite mostram que os russos estão fazendo isso no porto de Sebastopol, o maior da Crimeia (região do sul da Ucrânia que a Rússia ocupou em 2014): golfinhos treinados foram colocados ali para proteger a base naval local de possíveis ataques inimigos.

Feitas pela empresa Maxar Technologies, as imagens mostram, segundo o analista H. I. Sutton, do Instituto Naval dos EUA (USNI), dois currais transportáveis de golfinhos na entrada do porto, no Mar Negro. Eles foram colocados ali em fevereiro, quando a Rússia lançou sua “operação militar especial” contra a Ucrânia. Os golfinhos estariam encarregados de impedir que mergulhadores ucranianos viesse sob a água para sabotar navios de guerra ancorados ali.

Segundo Sutton informou à NBC News, a tática já havia sido empregada pelos russos em 2018 no porto de Tartus, na Síria. Ali, o governo de Moscou usou golfinhos para combater mergulhadores inimigos, recuperar objetos do fundo do mar e realizar operações de inteligência. A Maxar Technologies declarou concordar com as análises de Sutton.

Treinamento militar

O naufrágio do Moskva, o mais importante navio da frota russa no Mar Negro, ocorrido em abril, mostrou uma vulnerabilidade militar inesperada. Isso teria aumentado ainda mais a pressão sobre o comando militar russo para defender suas embarcações ali.

O treinamento de golfinhos na base de Sabastopol já ocorria quando a região era parte da União Soviética. Os animais eram capacitados para procurar minas e colocar explosivos em navios, segundo o jornal Moscow Times. Com a dissolução da União Soviética, em 1991, esses cetáceos foram herdados pela Ucrânia, que os retreinou para serem usados em terapia para crianças com necessidades especiais. Quando a Rússia reconquistou a Crimeia, em 2014, o programa militar para os golfinhos foi retomado, e parece ter se expandido: em abril de 2019, uma baleia beluga foi avistada com um tipo de arreio na Noruega, aparelhado com uma câmera e um clipe que dizia “Equipment St. Petersburg”.

As habilidades de mergulho profundo dos golfinhos e seu privilegiado sistema de comunicação por sonar tornam esses animais mais eficazes na detecção subaquática do que qualquer grande avanço tecnológico obtido até hoje. Apesar dos protestos de ativistas dos direitos dos animais, esses cetáceos têm sido usados com finalidades militares tanto por russos como por americanos desde a Guerra Fria. Na Guerra do Vietnã, golfinhos e leões-marinhos foram acionados pelos EUA para procurar objetos e patrulhar águas restritas. Segundo informou a NBC News em 2003, golfinhos treinados foram enviados pelos americanos para fazer uma varrição de minas em um importante porto do Iraque.