Céus cheios de nuvens escuras, moradores da floresta capturados na intimidade de suas vidas diárias, montanhas emergindo da vegetação. A Amazônia que Sebastião Salgado nos mostra não é de clichês – toda exuberância e cores vivas, com variações de folhagem verde brilhante, terra roxa e rios irrigando a floresta. Ao contrário, as imagens de Salgado retratam um mundo em claro-escuro, grandioso, complexo. Frágil também.

Pois a Amazônia – lar de 370 mil povos indígenas e um sumidouro de carbono que absorve quase 10% do CO2 do mundo – está ameaçada. De acordo com uma estimativa de novembro de 2021 do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento, em grande parte ilegal, aumentou quase 22% em um ano – com mais de 13 mil novos quilômetros quadrados de floresta derrubados.

Serra do Marauiá, Terra Indígena Yanomâmi, município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil, 2018. Um dos ecossistemas mais diversos do planeta, a Amazônia abriga 16 mil espécies de árvores. Crédito: © Sebastião Salgado

Com seu livro Amazônia, publicado em 2021, o fotojornalista brasileiro homenageia a beleza da floresta amazônica, que ele acredita que ainda não é tarde para salvar. “Meu desejo, com todo meu coração, com toda minha energia, com toda a paixão que possuo, é que daqui a 50 anos este livro não se assemelhe ao registro de um mundo perdido”, diz Salgado. “A Amazônia deve continuar viva.”

Xamã Yanomâmi, Amazonas, Brasil, 2014. Os 40.000 povos Yanomâmi, que habitam o Brasil e a Venezuela, formam o maior grupo indígena da Amazônia. Crédito: © Sebastião Salgado

Retorno da biodiversidade

Em 1998, Salgado e sua esposa, Lélia, fundaram o Instituto Terra, localizado na fazenda da família do fotógrafo, no vale do rio Doce. Para recuperar essa terra degradada pela erosão, o casal estabeleceu um programa de reflorestamento em Minas Gerais, plantando 3 milhões de árvores em 20 anos.

Aldeni e Josane, Terra Indígena Yanomâmi, Amazonas, Brasil, 2014. Com a sobrevivência ameaçada pelas incursões de garimpeiros ilegais, as terras Yanomâmi, com 9,6 milhões de hectares, foram reconhecidas como Terra Indígena protegida em 1992. Crédito: © Sebastião Salgado

“Toda a biodiversidade voltou, até as onças, que se julgavam extintas em nossa região”, entusiasma-se o fotógrafo. O Instituto, que faz parte da reserva da biosfera da Mata Atlântica da Unesco, também tem vocação educativa, de conscientização sobre o meio ambiente. Todos esses são objetivos do programa O Homem e a Biosfera (MAB ) da Unesco – que completou 50 anos em 2021, e com o qual Salgado está ativamente envolvido.

Habitantes de Watoriki passam pela sagrada sumaúma Ceiba, uma árvore gigantesca na entrada da aldeia. Terra Indígena Yanomâmi, Amazonas, Brasil, 2014. Crédito: © Sebastião Salgado

Amazônia também é uma exposição de fotografia. Depois de Paris, Roma e Londres, ela passa por São Paulo, Rio de Janeiro e Manchester em 2022. As imagens de Sebastião Salgado também foram expostas nas comemorações dos 75 anos da Unesco, em novembro de 2021.

Chuvas fortes sobre o rio Juruá, estado do Amazonas, Brasil, 2009. Cerca de 1.000 litros de água evaporam diariamente de cada árvore grande. Esses bilhões de árvores geram um fluxo de umidade no ar – muito maior do que os próprios rios amazônicos. Crédito: © Sebastião Salgado
Arquipélago do rio Mariuá, rio Negro, estado do Amazonas, Brasil, 2019. Crédito: © Sebastião Salgado
Manitzi Asháninka (à direita) e seu filho Tchari, ou Davizinho (à esquerda), Terra Indígena Kampa do rio Amônea, estado do Acre, Brasil, 2016. Grupo indígena com uma das histórias mais antigas, os Asháninka podem traçar suas origens econômicas e relações culturais com o Império Inca até o século 15. Crédito: © Sebastião Salgado