Do fim de março ao início de abril, o “El Niño costeiro” – um fenômeno climático assemelhado ao El Niño (o aquecimento das águas equatoriais do leste do Pacífico), mas limitado aos litorais do Equador e do Peru – castigou duramente a área entre o noroeste peruano e o sudoeste da Colômbia. Até 31 de março, chuvas, inundações e deslizamentos de terra já haviam tirado a vida de cerca de 100 pessoas e deixado 200 mil desabrigados no Peru.

A costa norte do país foi a mais impactada: a enchente do rio Piura inundou parte da cidade homônima, atingiu 56 mil casas e desabrigou mais de 25 mil pessoas. Em Mocoa, capital do departamento colombiano de Putumayo, as chuvas da noite de 31 de março e os deslizamentos subsequentes deixaram pelo menos 254 mortos, 203 feridos e 220 desaparecidos.

O El Niño costeiro tem sua responsabilidade na tragédia, mas o ser humano deu uma contribuição essencial, fazendo construções em locais inadequados (Mocoa foi erguida numa área cortada por vários rios e perto de montanhas) e desmatamentos que tiraram das florestas sua contenção natural. Segundo o arquiteto peruano Augusto de Zevallos, como os incas e outros povos antigos da região respeitavam a natureza, suas edificações, protegidas da força das águas, seguem conservadas.

Já os construtores modernos ignoram isso, e o castigo vem com força. Sobre a tragédia que destruiu sua cidade, o bispo de Mocoa, Luis Maldonado, disse: “Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes, mas a natureza não perdoa”. E meteorologistas alertam: esse El Niño costeiro pode prenunciar um novo El Niño global.