Os cientistas do Copernicus Climate Change Service (C3S) revelaram hoje (7 de outubro) que setembro de 2020 foi o mês mais quente que se tem registro. O recorde anterior era de setembro de 2019, 0,05 °C inferior ao registrado este ano. No Brasil, esse recorde traduziu-se em temperaturas acima da média ao longo do mês passado e que continuam em outubro, culminando em um alerta de risco de morte emitido pelo Inmet.

“Esta onda de calor que se instalou no Brasil no final de setembro e nos primeiros dias de outubro de 2020 será amplamente estudada pela academia porque está reescrevendo a climatologia de temperaturas no país, batendo recordes de calor de mais de cem anos”, afirma a meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo. Ela explica que a onda de calor se espalhou por todo o país, mas atinge com mais severidade o Centro-Oeste e o estado de São Paulo. “O dia 6 de outubro marcou o 11º dia consecutivo em que o interior paulista registrou temperaturas acima de 40 °C.”

A depender da influência de fenômenos climáticos como La Niña nos meses restantes, há chances de que 2020 se torne o ano global mais quente de que se tem registro – recorde que permanece com o ano de 2016. Mas os cientistas do C3S revelaram ainda que tanto 2016 quanto 2020 apresentam anomalias de temperatura média global bastante semelhantes.

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Mês mais quente na Europa

Os dados de reanálise do C3S mostram que o mês passado teve temperaturas 0,63 °C maiores do que a média para o mês no período de referência climatológica padrão de 30 anos (1981-2010). Isto torna setembro deste ano 0,05 °C mais quente do que setembro de 2019, e 0,08 °C mais quente do que setembro de 2016, respectivamente, o primeiro e o segundo mês mais quentes registrados anteriormente.

Na Europa, as temperaturas médias de setembro também bateram recorde, cerca de 0,2 °C mais quentes do que setembro de 2018, o mês mais quente anteriormente registrado no continente. As temperaturas altas acima da média foram predominantes especialmente na região dos Bálcãs.

As temperaturas estavam bem acima da média em muitas regiões do globo em setembro, incluindo partes da América do Sul, o Oriente Médio e a Austrália. Condições mais frias do que a média marcaram o Oceano Pacífico equatorial oriental, algo consistente com a ocorrência do fenômeno La Niña.

Ártico derretendo

O C3S também monitora o gelo marinho mensalmente, e seus dados confirmam que a extensão média do gelo marinho do Ártico para setembro passado foi a segunda mais baixa registrada, depois de setembro de 2012. Embora a Sibéria tenha grandes flutuações de temperatura de um ano para o outro, o calor relativo observado este ano tem sido incomum por sua magnitude e persistência.

Desde que as observações por satélite do Ártico começaram em 1979, a extensão de gelo do mar diminuiu acentuadamente. O ciclo anual típico do gelo marinho começa a diminuir desde o início da primavera até ao final do verão, quando atinge a sua extensão mínima para o ano, normalmente em setembro. Depois, o gelo marinho começa a se acumular novamente para atingir o máximo, o que ocorre tipicamente em março.

“Em 2020, foi registrado um declínio estranhamente rápido da extensão de gelo do Oceano Ártico durante junho e julho, na mesma região onde se registraram temperaturas acima da média, pré-condicionando o mínimo de gelo do mar para ser particularmente baixo este ano”, explica Carlo Buontempo, diretor do C3S. “A combinação de temperaturas recordes e recuo do gelo marinho do Ártico em 2020 realça a importância de melhorar e ampliar o monitoramento dessa região, que aquece mais rapidamente do que qualquer outra parte do mundo.”

O C3S é executado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF) em nome da Comissão Europeia, e monitora o clima global e europeu.