Ex-prisioneira de Auschwitz de 98 anos, Lily Ebert tem cerca de 1,6 milhão de seguidores em seu canal no TikTok, onde posta vídeos respondendo a perguntas sobre como superou a barbárie nazista.”Tornar-se bisavó é algo especial para qualquer um”, disse a londrina por escolha Lily Ebert à agência de notícias britânica PA, se referindo aos mais novos membros de sua família. Mas para ela, como sobrevivente do Holocausto, é algo ainda mais especial.

“Nunca pensei que conseguiria isso. Tinha que sobreviver primeiro e depois atingir essa idade… [os nazistas] queriam nos matar e nós mostramos que eles não conseguiriam. Os bebês são a melhor vingança contra os nazistas”, ressaltou Ebert num texto postado no Twitter por seu bisneto, Dov Forman. A sobrevivente do Holocausto deu as boas-vindas recentemente ao seu 35º neto.

Nascida na Hungria, ela é uma das poucas testemunhas oculares vivas do Holocausto e regularmente relata suas experiências em palestras e eventos. “Prometi a mim mesma: enquanto viver, contarei minha história para as gerações futuras.”

Para ajudar a espalhar sua mensagem mais amplamente, seu bisneto Dov Forman administra uma conta na plataforma de mídia social TikTok há quase dois anos – e o perfil é muito popular entre as gerações mais jovens. Cerca de 1,6 milhão seguem Lily Ebert e Dov Forman em seu canal, que conquistou 23,1 milhões de curtidas.

A dupla teve a ideia quando ela ficou impedida de dar palestras nas escolas durante os lockdowns no Reino Unido devido à pandemia de covid-19.

Lembrança do Holocausto no TikTok

No TikTok, Ebert compartilha vídeos curtos sobre sua vida e fala abertamente dos horrores de estar em Auschwitz. “Era um inferno. Eles tocavam música enquanto matavam gente.” Em vídeos na plataforma, ela pergunta como é possível que mulheres nazistas que trabalhavam como guardas do campo se dispusessem a matar crianças e depois voltarem para casa para cuidar de seus próprios filhos. Ela também fala sobre como os prisioneiros eram punidos severamente se tentassem ajudar outros que estavam doentes demais para trabalhar.

Depois de Auschwitz, a vida de Ebert continuou. Alguns aspectos de sua vida cotidiana são mostrados no canal TikTok, como sua tradição de fazer pão de chalá toda semana. Seu bisneto de 18 anos publica vídeos dela fazendo o pão judaico, tradicionalmente consumido no Shabat, sétimo dia da semana ou sábado, ou em outros feriados.

Os nazistas deportaram Lily Ebert da Hungria para Auschwitz-Birkenau em 1944, onde sua mãe e dois irmãos mais novos foram assassinados. Ebert e seus irmãos mais velhos, entretanto, foram considerados aptos para o trabalho e conseguiram sobreviver. Ela era trabalhadora forçada numa fábrica de munições perto de Leipzig quando os soldados americanos chegaram em abril de 1945, libertando-a, junto com seus companheiros de prisão. Assim, escapou por pouco da marcha da morte da SS.

Com apenas 20 anos na época, ela se lembra de quando um soldado americano, não tendo mais papel para escrever, rabiscou palavras de encorajamento numa cédula de dinheiro e deu a ela. “Um começo de uma nova vida. Boa sorte e felicidade”, dizia.

Essa nova vida começou na Suíça. Depois, ela emigrou para Israel, onde conheceu seu marido. A família vive em Londres desde 1967.

Mensagem de tolerância

A maior preocupação dela é manter viva a memória do Holocausto para que nada parecido aconteça novamente, como disse no TikTok. Juntamente com seu bisneto, Ebert escreveu sua história no livro intitulado Lily's Promise: How I survived Auschwitz and found the strength to live (“A promessa de Lily: Como sobrevivi a Auschwitz e encontrei a força para viver”). O prefácio é da autoria do príncipe Charles. O livro chegou à lista britânica de best-sellers.

Para seu aniversário de 98 anos, em 29 de dezembro de 2021, o bisneto postou fotos no Twitter de Ebert e seu neto mais novo, cercados por inúmeros cartões de aniversário. “Nunca esperei sobreviver a Auschwitz. Agora, aos 98 anos, celebro cercada por minha família – os nazistas não venceram.”