Após viagem de dez meses, nave se choca com corpo celeste para tentar desviá-lo de rota. Teste simula como a Terra poderia ser defendida contra impactos. Astrônomos ainda vão avaliar se curso foi mesmo modificado.Uma espaçonave da Nasa colidiu com sucesso com um asteroide em velocidade hipersônica nesta segunda-feira (26/09), no primeiro teste do mundo de um sistema que os cientistas chamam de defesa planetária, projetado para evitar uma potencial colisão de meteoritos com a Terra.

O teste foi transmitido ao vivo pela agência espacial americana, após uma jornada espacial de dez meses com o fim de desviar de forma autônoma um asteroide não perigoso.

A transmissão mostrou imagens feitas por uma câmera a bordo da sonda da missão Dart (sigla em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo) à medida que a espaçonave – não maior que uma máquina de venda automática com dois painéis solares retangulares – se aproximava de Dimorfo, um asteroide de cerca de 160 metros de diâmetro que orbita Dídimo, outro asteroide maior, de cerca de 780 metros de diâmetro.

O impacto foi monitorado quase em tempo real a partir do centro de operações da missão no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, Maryland, Estados Unidos.

Aplausos irromperam da sala de controle quando o sinal foi finalmente perdido, confirmando que a espaçonave colidiu com Dimorfo. O impacto ocorreu às 20h14 (horário de Brasília), a cerca de 11 milhões de quilômetros da Terra.

A missão de 330 milhões de dólares, em desenvolvimento por cerca de sete anos, foi concebida para determinar se uma nave espacial é capaz de alterar a trajetória de um asteroide através de força cinética pura, empurrando-o para fora do curso apenas o suficiente para tirar a Terra de sua rota.

Se o experimento foi bem-sucedido para além da colisão, só se saberá após mais observações do asteroide por meio de telescópios terrestres no próximo mês. Mas funcionários da Nasa comemoraram o resultado do teste na segunda-feira, afirmando que a sonda atingiu seu objetivo.

“A Nasa trabalha para o benefício da humanidade, então para nós é o cumprimento final de nossa missão fazer algo assim – uma demonstração de tecnologia que, quem sabe, algum dia poderá salvar nosso lar”, afirmou a vice-administradora da Nasa, Pam Melroy, uma astronauta aposentada.

A sonda, lançada por um foguete da SpaceX em novembro de 2021, fez a maior parte de sua viagem sob a orientação dos diretores de voo da Nasa, com o controle entregue a um sistema autônomo de navegação a bordo nas horas finais da viagem.

Objetos próximos da Terra

Nem Dimorfo nem o asteroide maior que ele orbita apresentam qualquer ameaça real à Terra, e os cientistas da Nasa disseram que o teste não poderia criar um novo perigo por engano.

Mas eles pertencem a uma classe de corpos celestes conhecida como Objetos Próximos da Terra (NEO, na sigla em inglês), que transitam num raio de 48 milhões de quilômetros da Terra.

Existem cerca de 10 mil asteroides considerados próximos à Terra com ao menos 140 metros de tamanho, mas nenhum tem chance significativa de atingir o planeta nos próximos 100 anos. Mas cientistas advertem que deve haver mais de 15 mil desses objetos a serem descobertos.

Estima-se que asteroides com ao menos 140 metros de tamanho atinjam a Terra uma vez a cada 20 mil anos. Já impactos de asteroides com dez quilômetros ou mais de diâmetro – como o que colidiu há 66 milhões de anos e levou à extinção da maior parte da vida na Terra, incluindo os dinossauros – ocorrem a cada 100 a 200 milhões de anos.

A Agência Espacial Europeia (ESA) está preparando sua própria missão para estudar o asteroide de perto. Para isso, usará a espaçonave HERA, com lançamento programado para 2024. Enquanto isso, a China também está planejando uma missão de defesa planetária para 2026.

ek/md (Reuters, AP, Lusa, DW)