Em sintonia com as ideias do seu fundador, a Disney é hoje exemplo de empresa que privilegia a sustentabilidade. Sua vice-presidente, Beth Stevens, mostra como essa diretriz se desdobra em várias iniciativas da companhia

Os mais antigos certamente vão recordar que, ao lado de inúmeros desenhos animados memoráveis, as produções da Disney para a televisão e o cinema também incluíam muito material sobre a natureza. Walt Disney, o visionário fundador de uma das empresas mais conhecidas do mundo, sempre demonstrou interesse pela natureza e sonhava com a sua preservação. Essas preocupações se enraizaram na organização, e um exemplo disso é o grande complexo de parques da empresa na Flórida, o Disney World, erguido numa região de terras úmidas com impactos ambientais relativamente pequenos.

O aprofundamento dessa visão na Disney a torna hoje uma referência mundial em termos ambientais. Parte desse sucesso cabe a Beth Stevens, uma zoóloga que começou na Disney nos anos 1990, ajudando a abrir o Animal Kingdom, no Disney World. Hoje ela é vice-presidente sênior de cidadania corporativa na Disney, responsável por desenvolver e ampliar a aplicação dos programas ambientais e de conservação da empresa. Beth concedeu a entrevista a seguir após sua apresentação na conferência Ethos 360°, realizada em São Paulo em setembro.

PLANETA – Como e quando a sustentabilidade se tornou um pilar nos negócios da Disney?
BETH – Walt Disney se preocupava muito com a natureza, e, em consequência, com o ambiente e a sustentabilidade – esses aspectos estão no DNA da empresa. Há décadas existem em toda a empresa vários esforços nessa direção. Em 2009, anunciamos nossos primeiros objetivos e metas ambientais. No início daquele ano, começamos a rastrear nossos progressos em relação a esses objetivos e metas anunciados publicamente numa base anual, até hoje. Essas informações constam em nosso relatório de cidadania, disponível online.

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A construção do Animal Kingdom (acima) envolveu a compra de áreas vizinhas para preservação

PLANETA – Quais medidas foram adotadas pela empresa para construir o Disney World numa região ambientalmente tão complexa quan-to a Flórida Central?
BETH – O Walt Disney Resort em Orlando, também conhecido como Disney World, tem mais de 111 km2. Cerca de metade desse terreno é mantida como área de conservação – nossa preocupação em preservar terras ali vem desde o início do Walt Disney Resort. Além disso, quando começamos a construir o Animal Kingdom, por meio da nossa parceria com a organização não governamental The Nature Conservancy (TNC), ajudamos na compra de cerca de 46,5 km2 vizinhos ao Disney World, hoje chamados de Disney Wilderness Preserve. A posse e a operação dessa área são da TNC. Esse terreno é muito importante, em termos de preservação da bacia hidrográfica, porque tem águas dos Everglades (a vasta área úmida da Flórida responsável pelo abastecimento de cidades como Miami – Nota da Redação). Isso é um exemplo de como nos preocupamos muito em assegurar que estamos fazendo a coisa certa pelos ecossistemas da Flórida Central.

PLANETA – Esse aprendizado tem sido aplicado nos parques da Disney em outros locais?
BETH – Sempre que construímos um novo parque, incorporamos o que aprendemos em parques anteriores. Temos um time de “imagineiros” que ajuda a equacionar as melhores soluções sustentáveis para cada parque em particular.

PLANETA – Em 2012, a Disney assumiu uma série de compromissos ambiciosos para “por volta de 2015”, como financiar projetos de reflorestamento e conduzir um estudo piloto em parceria com organizações líderes para quantificar benefícios e serviços ao ecossistema além dos relacionados ao carbono. Como andam essas metas?
BETH – Assumimos esses compromissos no Rio de Janeiro, em 2012, e os dados de 2015 mostram que estamos no caminho certo para cumprir todos eles.

PLANETA – Um dos programas mais importantes desenvolvidos pela Disney é o Climate Solutions Fund. Qual é o objetivo dele?
BETH – O Climate Solutions Fund foi criado em 2013, quando decidimos colocar um preço interno no carbono liberado, para compensar o que não podemos reduzir. Cada unidade de negócios é cobrada pelas suas emissões. Usamos esses dólares para investir em projetos de compensação de carbono, por muitas razões. A principal delas é que vemos a natureza como uma solução para a mudança climática, e faremos tudo o que pudermos para conservá-la para as futuras gerações. Investimos em três tipos de projetos florestais de carbono: reflorestamento (o plantio de árvores), que acarreta muitos benefícios em termos de carbono, mas demanda um tempo mais longo; aperfeiçoamento de manejo florestal, para maximizar os benefícios da absorção de carbono; e projetos para evitar o desmatamento, que mantenham florestas antigas, cujas árvores, quanto maiores e mais antigas forem, mais conseguem absorver gás carbônico. Trabalhamos com organizações especializadas nisso, que sabem como medir os benefícios em termos de carbono. Então, levamos essas medições para ser verificadas da maneira mais qualificada possível. É assim que sabemos que estamos obtendo resultados críveis.

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“O Brasil tem recebido apoio do Disney Conservation Fund para projetos como o de reflorestamento da mata atlântica”

PLANETA – A Disney investe em projetos de reflorestamento e proteção da biodiversidade em diferentes partes do mundo. Como eles são escolhidos?
BETH – A escolha cabe ao Disney Conservation Fund, criado em 1995. Ele oferece apoio financeiro para o estudo da vida selvagem, a proteção de habitats, o desenvolvimento de programas de educação e conservação de comunidades em ecossistemas críticos e promove experiências que conectam as crianças à natureza por meio da exploração e da descoberta. Já arrecadamos mais de US$ 30 milhões, quantia doada para dar apoio a projetos em 114 países. O Brasil é um dos países que têm recebido esse apoio para vários projetos, como o da conservação do tatu-canastra e o de reflorestamento na Mata Atlântica. O fundo tem um processo de revisão bem rigoroso. Suas equipes de especialistas avaliam cada proposta que chega a nós em termos da integridade científica do projeto, de como ele envolve a comunidade (sobretudo em termos de educação) e influencia políticas em áreas nas quais se desenvolve, e de quais são as suas perspectivas de sucesso ao longo do tempo.

PLANETA – Quais projetos da Disney relacionados ao ambiente a srª considera mais importantes?
BETH – Eu destaco inicialmente o trabalho que fazemos para diminuir as nossas emissões. Em primeiro lugar, temos de encontrar formas de baixá-las em todas as operações – por exemplo, diminuir o consumo de energia elétrica, de combustíveis, e assim por diante. Em segundo lugar, usar combustíveis alternativos, ou fontes alternativas de energia. A terceira forma é investir em projetos florestais de carbono. Esses últimos trazem benefícios em relação às emissões de carbono e acarretam gigantescos benefícios para a biodiversidade local. Eles também são essenciais para a proteção de bacias hidrográficas e geram empregos para as comunidades locais. Portanto, trazem benefícios múltiplos. Em segundo lugar, coloco o trabalho com o Disney Conservation Fund, que nos permite dar apoio a projetos de conservação em todo o mundo. E, em terceiro, listo a Disney Environmentality, uma iniciativa destinada a todos os colaboradores da empresa, pela qual mostramos como eles podem ser conscientes em termos ambientais. Para que isso ocorra, temos de promover e desenvolver uma cultura de consciência ambiental em todos os nossos negócios. Algumas das melhores ideias nesse sentido vêm dos colaboradores.

PLANETA – Como a Disneylândia, na Califórnia, está lidando com a seca histórica que castiga o estado?
BETH – Em primeiro lugar, avaliamos todas as formas possíveis de reduzir o consumo diário de água. Também aumentamos o consumo de água de reúso e estamos plantando vegetais mais tolerantes à seca.

PLANETA – A Disney emprega pessoas de todo o mundo para trabalhar em seus parques. Elas são preparadas para assimilar os conceitos de sustentabilidade da companhia?
BETH – Os parques têm uma cultura muito forte de consciência ambiental, que está totalmente integrada a tudo o que fazemos e à forma como fazemos. Assim como aprendemos a operar uma atração de forma segura, aprendemos a operá-la de modo ambientalmente responsável. Os parques também partilham histórias com quem lá trabalha a fim de promover a consciência ambiental.