Um novo estudo revela que o icônico tubarão extinto megalodon (ou megalodonte) atingia tamanhos maiores em ambientes mais frios do que em áreas mais quentes.

Kenshu Shimada, professor de paleobiologia da Universidade DePaul (EUA), e seus coautores reviram no tempo e no espaço os padrões de tamanho do corpo do Otodus megalodon, o tubarão fóssil que viveu quase em todo o mundo cerca de 15 a 3,6 milhões de anos atrás. O novo estudo foi publicado na revista Historical Biology.

O Otodus megalodon é comumente retratado como um tubarão gigantesco e monstruoso em romances e filmes, como o thriller de ficção científica de 2018 Megatubarão. Na realidade, essa espécie só é conhecida a partir de dentes e vértebras no registro fóssil, embora seja geralmente aceito cientificamente que a espécie era de fato bastante gigantesca, crescendo até pelo menos 15 metros e possivelmente até 20 metros. O novo estudo reexaminou registros publicados de ocorrências geográficas de dentes do megalodon, juntamente com seus comprimentos corporais totais estimados.

“Nossas descobertas sugerem um padrão de tamanho corporal anteriormente não reconhecido para o tubarão fóssil, notavelmente seguindo um padrão ecológico orientado pela geografia conhecido como regra de Bergmann”, disse Shimada.

Ilustração esquemática mostrando o padrão geral de tamanho do corpo do icônico tubarão extinto Otodus megalodon, usando silhuetas hipotéticas. Observe o aumento do tamanho do corpo em direção às águas mais frias em latitudes mais altas. Crédito: Universidade DePaul/Kenshu Shimada

Padrão natural

Introduzida pelo biólogo alemão Carl Bergmann em meados de 1800, a regra de Bergmann é uma ampla generalização que explica que animais maiores prosperam em climas mais frios porque seu tamanho os ajuda a reter calor de forma mais eficiente em comparação com animais com corpos menores. “Os cientistas procuram constantemente regras de vida que nos ajudem a prever padrões naturais, e parece que a regra de Bergmann se aplicava ao Otodus megalodon”, observou o coautor Victor Perez, paleontólogo do Museu Marinho Calvert, em Maryland (EUA).

Alguns locais de ocorrência do megalodon foram previamente identificados como possíveis áreas de berçário do tubarão fóssil porque esses locais produzem dentes desse supertubarão em média menores na comparação com outras localidades onde eles foram encontrados. No entanto, o novo estudo descobriu que as áreas de berçário previamente identificadas para o megalodon estão localizadas perto do equador, onde a água é mais quente. “Ainda é possível que o O. megalodon possa ter utilizado áreas de berçário para criar tubarões jovens. Mas nosso estudo mostra que localidades fósseis consistindo em dentes menores de megalodon podem ser um produto de tubarões individuais atingindo tamanhos corporais menores simplesmente como resultado da água”, disse o coautor Harry Maisch, docente do Bergen Community College e da Universidade Fairleigh Dickinson, em Nova Jersey (EUA).

Implicações importantes

“A ideia deste novo estudo se originou de uma conversa casual que ocorreu durante uma recente viagem de pesca às Florida Keys pelo autor principal, sua família e eu, decorrente de uma pergunta básica: onde vivem os peixes grandes?”, disse o coautor Martin Becker, professor de ciências ambientais da Universidade William Paterson, em Nova Jersey (EUA). Apesar de o estudo ter sido iniciado por essa pergunta simples, “os resultados (…) têm implicações importantes para entender como as mudanças climáticas modernas estão acelerando rapidamente as mudanças de habitat marinho para latitudes mais polares em predadores como tubarões”, observou o coautor Michael Griffiths, outro professor de ciências ambientais na Universidade William Paterson.

“A principal conclusão deste estudo é que nem todos os indivíduos megalodons geograficamente diferentes cresceram igualmente para tamanhos gigantescos. A noção comum de que a espécie atingiu 18-20 metros deve ser aplicada principalmente a populações que habitavam ambientes mais frios”, disse Shimada.