Uma equipe internacional de paleobiólogos descreveu uma espécie de tartaruga anteriormente desconhecida que viveu no que hoje é a Romênia há cerca de 70 milhões de anos. O réptil, medindo 19 cm de comprimento, não tem parentes próximos atualmente, mas é membro do grupo maior de tartarugas Pleurodira (conhecidas em inglês como side-necked), encontradas hoje principalmente no hemisfério sul.

Seu parente mais próximo está registrado em fósseis mais recentes que datam de cerca de 57 milhões de anos atrás, também na Romênia. Isso indica que a linhagem evolutiva sobreviveu ao evento de extinção Cretáceo-Paleogeno há 66 milhões de anos, que matou pelo menos 75% de todas as formas de vida, incluindo os dinossauros não alados.

O biogeólogo da Universidade de Tübingen (Alemanha) dr. Márton Rabi liderou a equipe de pesquisa, cuja descrição da espécie foi publicada na revista Journal of Systematic Palaeontology. A espécie recebeu o nome de Dortoka vremiri, em homenagem a Mátyás Vremir, pesquisador-chave das faunas de vertebrados do Cretáceo falecido em 2020.

Trabalhando com colegas da Universidade de Bucareste (Romênia) e do Museu de História Natural da Hungria e da Universidade Eöotvöos Loránd (também na Hungria), a equipe identificou os fósseis de tartarugas da Bacia de Haţeg, na Transilvânia. Um dos mais importantes sítios fósseis de vertebrados do Cretáceo Superior na Europa, a localidade é conhecida por sua fauna insular de dinossauros anões e outras espécies. O sítio tem uma história de pesquisa que abrange mais de 120 anos.

Seletividade

Uma evidência do Dortoka vremiri foi encontrada na década de 1990. A descoberta fornece uma visão rara da seletividade durante a extinção em massa do final do Cretáceo.

Como essa pequena tartaruga sobreviveu quando a maioria das outras espécies morreu? “Curiosamente, membros da mesma família de tartarugas não sobreviveram a esse evento de extinção na Europa Ocidental”, disse Felix Augustin, doutorando da Universidade de Tübingen e autor principal do estudo. O cenário paleogeográfico mais remoto e potencialmente mais protegido da massa terrestre da Transilvânia pode ter desempenhado um papel na sobrevivência diferencial das tartarugas do Leste da Europa, observou ele.

Outro fator pode ter sido o ambiente imediato do Dortoka vremiri. “O único outro quelônio que coexistiu com a nova espécie foi uma tartaruga terrestre que não sobreviveu à extinção em massa. Em contraste, essa nova espécie era uma tartaruga que vivia em água doce”, afirmou Zoltan Csiki-Sava, da Universidade de Bucareste. “Isso se encaixa em um padrão observado anteriormente de faunas norte-americanas, em que os vertebrados terrestres foram notavelmente mais impactados pela extinção do final do Cretáceo do que as espécies de água doce.”

Pesquisadores especulam que isso poderia ter acontecido porque as cadeias alimentares de água doce são baseadas em material orgânico em decomposição, que permanece disponível mesmo quando o alto estresse ambiental causa o colapso das teias alimentares terrestres. Esse padrão já foi observado durante outros eventos de extinção e pode ser comum. No entanto, Márton Rabi ressalta que as evidências ainda são raras.

Tais descobertas assumem um significado urgente na atual e contínua extinção em massa de espécies causada pela atividade humana. Compreender a seletividade de extinções passadas é crucial para estabelecer prioridades de conservação.