As cerca de 10 mil pessoas que viviam em Çatalhöyük, na Turquia, cerca de 8 mil a 9 mil anos atrás, tornaram esse núcleo o maior assentamento conhecido do que os arqueólogos chamam de períodos Neolítico e Calcolítico.

“Çatalhöyük é um dos sítios arqueológicos mais famosos”, disse Lise Bender Jørgensen, arqueóloga e professora emérita do Departamento de Estudos Históricos e Clássicos da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU). Especialista em tecidos arqueológicos, ela ajudou a confirmar com que material as pessoas da cidade turca teciam suas roupas.

Estudiosos têm discutido que tipo de roupa as pessoas usavam em Çatalhöyük desde 1962, quando encontraram as primeiras peças de tecido aqui. Alguns deles acreditam que as pessoas faziam suas roupas de lã. Outros pensam que elas eram feitas de linho. Depois de quase 60 anos, a resposta surgiu: “Nenhum dos dois”, dizem Bender Jørgensen e seus colegas. Suas descobertas foram apresentadas em artigo na revista arqueológica Antiquity.

O professor Ian Hodder mostra à especialista Antoinette Rast-Eicher o local da escavação. Crédito: Lise Bender Jørgensen, NTNU
A importância de Çatalhöyük

Çatalhöyük é considerada uma superestrela nos círculos arqueológicos. “Quando Çatalhöyük foi escavada no final dos anos 1950, era considerada uma das cidades mais antigas de todos os tempos. Embora novas descobertas mostrem que isso não é mais verdade, o lugar ainda tem um alto fator de celebridade”, diz Jørgensen.

O arqueólogo James Mellaart liderou as primeiras escavações. Posteriormente, as autoridades turcas o expulsaram do país, pois ele estaria envolvido na venda de artefatos arqueológicos no mercado negro.

Pessoas já habitavam Çatalhöyük há mais de 9 mil anos. Nada menos que 18 camadas de assentamentos foram identificados ali. As pessoas chamavam a cidade de casa até cerca de 7.950 anos atrás.

Um dos principais arqueólogos do mundo, o professor Ian Hodder, da Universidade Stanford (EUA), realizou novas escavações ali entre 1993 e 2017. Elas renderam uma grande quantidade de novos dados e forneceram uma compreensão totalmente nova do local. Entre as descobertas feitas por Hodder e seus colegas estão vários pedaços de tecido que, segundo se constatou depois, tinham entre 8.500 e 8.700 anos de idade.

Respostas claras

“Quando as escavações de Hodder começaram a revelar tecidos, eles me convidaram para examiná-los com minha colega suíça Antoinette Rast-Eicher”, disse Bender Jørgensen. Rast-Eicher, afiliada à Universidade de Berna, é especialista na identificação de fibras de tecido. Ela tem experiência com alguns dos têxteis europeus mais antigos encontrados nos lagos alpinos. As duas pesquisadoras têm colaborado em vários projetos nos últimos anos.

Em agosto de 2017, eles viajaram juntos para Çatalhöyük e examinaram os tecidos que os arqueólogos do grupo de Hodder haviam encontrado. Elas também colaboraram com a bolsista de pós-doutorado e arqueobotânica Sabine Karg, da Universidade Livre de Berlim (Alemanha). Esse grupo de especialistas encontrou respostas claras.

Aparência da fibra liberiana. Crédito: Vladimir Lobachev/Wikimedia Commons
Material antigo negligenciado

“No passado, os pesquisadores negligenciaram em grande parte a possibilidade de que as fibras do tecido pudessem ser qualquer coisa diferente de lã ou linho, mas ultimamente outro material tem recebido mais atenção”, disse Bender Jørgensen. As pessoas em Çatalhöyük usavam variedades variadas exatamente desse material.

“As fibras liberianas foram usadas por milhares de anos para fazer cordas, linhas e, por sua vez, também fios e tecidos”, disse Bender Jørgensen.

Uma amostra de fibra de uma cesta era feita de relva, mas vários dos tecidos são claramente feitos de fibra de carvalho. São também os mais antigos tecidos preservados do mundo.

A fibra liberiana é encontrada entre a casca e a madeira em árvores como salgueiro, carvalho ou tília. O povo de Catalhöyük usava casca de carvalho e, portanto, confeccionava suas roupas com a casca de árvores que encontravam em seus arredores. Eles também usavam a madeira de carvalho como material de construção para suas casas, e as pessoas, sem dúvida, colhiam as fibras liberianas quando as árvores eram derrubadas.

Não havia linho

As conclusões dos especialistas também se alinham com outro ponto surpreendente: nenhuma grande quantidade de linhaça foi encontrada na região. As pessoas em Çatalhöyük não parecem ter cultivado linho.

Bender Jørgensen observou que muitas pessoas costumam ignorar a fibra liberiana como um dos primeiros materiais. “O linho tende a dominar a discussão sobre os tipos de fibras de tecido que as pessoas usam”, afirmou ela.

Acontece que as pessoas dessa área não importavam linho de outros lugares, como muitos pesquisadores pensavam. Na realidade, elas usavam os recursos aos quais tinham amplo acesso.