Uma imagem pode valer mais que mil palavras, mas capturar várias imagens de um artefato em todo o espectro eletromagnético pode contar uma riquíssima história sobre a criação original e a degradação de objetos históricos ao longo do tempo. Pesquisadores demonstraram recentemente como isso foi possível usando várias técnicas de imagem complementares para sondar de forma não invasiva um rolo de pergaminho judaico. Os resultados foram publicados na revista “Frontiers in Materials”.

Uma equipe de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Optoeletrônica da Romênia extraiu detalhes sobre os materiais originais do manuscrito e técnicas de fabricação que empregam vários instrumentos espectroscópicos. Essas câmeras e dispositivos especializados capturam imagens que o olho humano normalmente não consegue ver.

“O objetivo do estudo era (…) entender o que o passar do tempo trouxe sobre o objeto, como ele foi degradado e qual seria a melhor abordagem para seu futuro processo de conservação”, explicou a dra. Luminita Ghervase, coautora do artigo e cientista pesquisadora do instituto.

Coleção particular

O manuscrito que a equipe investigou era um pergaminho mal preservado, mas sagrado, contendo vários capítulos do Livro de Ester da Bíblia hebraica. Como era artefato de coleção particular, pouco se sabia sobre a origem ou história do objeto.

“O uso de técnicas complementares de investigação pode lançar luz sobre a história desconhecida de tal objeto”, observou Ghervase. “Há alguns anos, as técnicas de investigação não invasivas e não destrutivas são a primeira escolha na investigação de objetos do patrimônio cultural, para cumprir uma das principais regras da prática de conservação, que é não prejudicar o objeto.”

Detalhes do pergaminho investigado, mostrando vários tipos de degradação. Crédito: Os autores

Uma das técnicas de imagem mais comuns é a imagem multiespectral. Ela envolve a varredura de um objeto em partes específicas do espectro eletromagnético. Essas imagens podem mostrar detalhes invisíveis sobre o uso e o desgaste do manuscrito. Diferentes radiações ultravioleta, por exemplo, revelaram uma mancha escura na espiral. Ela pode indicar um reparo usando um material orgânico como uma resina, porque o ponto absorve fortemente a luz ultravioleta.

Uma técnica relacionada, a imagem hiperespectral, foi usada para determinar a base do material da tinta no pergaminho envelhecido. Os cientistas detectaram dois tipos distintos de tinta, outra indicação de que alguém pode ter tentado consertar o item no passado. Eles também usaram um algoritmo de computador para ajudar a caracterizar os sinais espectrais de pixels individuais para discriminar ainda mais os materiais. Esse método promete reconstruir o próprio texto.

Tentativas de restauração

“O algoritmo usado para classificação de materiais tem o potencial de ser usado para identificar traços de tinta para inferir a possível forma original das letras”, disse Ghervase.

A equipe também empregou uma técnica de imagem conhecida como fluorescência de raios X (XRF). Ela pode identificar os tipos de produtos químicos usados ​​na tinta e na fabricação do pergaminho. Por exemplo, a XRF encontrou concentrações ricas em zinco. Essa substância química frequentemente está ligada ao processo de branqueamento, mas possivelmente é outra indicação de esforços de restauração anteriores.

Finalmente, os cientistas empregaram a espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) para identificar outros produtos químicos presentes, usando uma fonte de luz infravermelha para medir a absorção. Especificamente, a análise de FTIR forneceu uma visão aprofundada sobre a taxa de deterioração do colágeno no rolo, que é feito de pele de animal, entre outros dados.

Empregar essas várias técnicas de imagem para dissecar o pergaminho pode ajudar os conservadores a restaurar o objeto mais perto de sua condição original, identificando os materiais usados ​​para criá-lo.

“Eles podem decidir sabiamente se algum material impróprio foi usado e se tais materiais devem ser removidos”, disse Ghervase. “Além disso, os restauradores podem escolher os materiais mais adequados para restaurar e preservar o objeto, descartando possíveis materiais incompatíveis.”