Uma das faculdades extrassensoriais mais conhecidas, a telepatia atingiu um status curioso, sobretudo depois dos estudos pioneiros a seu respeito conduzidos na década de 1930 pelo “pai” da parapsicologia, o professor americano Joseph Banks Rhine, da Universidade Duke: praticamente ninguém desconhece a sua existência, mas explicá-la ainda é um desafio.

“A palavra telepatia foi criada há um século e define uma forma de comunicação entre duas mentes sem que utilizem os canais sensoriais conhecidos”, define Elsie Dubugras em O Mundo do Paranormal, edição especial de PLANETA publicada em fascículos em 1987. “Alguns especialistas dizem que esse é um fenômeno puramente psíquico, enquanto outros sustentam que é físico”, afirma Elsie no texto citado. “Existem também aqueles que negam essas hipóteses, alegando que tudo o que se pode dizer com certeza é que dois centros nervosos são capazes de manter uma comunicação temporária que transcende tudo o que é conhecido pela ciência.”

Em seus experimentos, Rhine comprovou estatisticamente que a telepatia existe, mas não houve avanços oficiais nas explicações sobre o seu modo de operação. Sabe-se que, durante os anos da Guerra Fria (o intervalo entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim, há 26 anos), americanos e soviéticos investiram na área para fins militares e teriam conseguido elevar o índice de precisão dos 28% de acertos obtidos pelos voluntários de Rhine (o índice de acaso é de 20%) para cerca de 80%. Talvez essas pesquisas tenham chegado a alguma conclusão sobre o mecanismo de funcionamento da telepatia, mas nada vazou nesse sentido.

Experiências novas

De qualquer modo, o assunto continua a ser investigado, e os resultados mais recentes têm vindo da Universidade de Washington (EUA). Um experimento realizado ali em 2013 demonstrou pela primeira vez uma conexão direta não invasiva entre as mentes de dois seres humanos. Antes disso, só se havia comprovado essa conexão entre as mentes de dois ratos (na Universidade Duke) e entre um ser humano e um rato (em Harvard).

Na experiência em Washington, Rajesh Rao, professor de engenharia e ciência da computação, usou um capacete eletroencefalográfico (EEG) para enviar um sinal cerebral via internet a outro pesquisador, Andrea Stocco, do lado oposto do campus. A partir do sinal recebido, Stocco, equipado com um aparelho de estimulação magnética transcraniana, acionou o teclado do computador para fazer uma jogada no videogame que ele e Rao observavam.

Universidade de Washington
O experimento deste ano na Universidade de Washington: o entrevistado (acima) responde telepaticamente “sim” ou “não” às perguntas enviadas pela inquiridora (abaixo)

Arquivo Planeta

Stocco, professor assistente de psicologia e pesquisador do Instituto de Aprendizagem & Ciências do Cérebro da universidade, aprofundou a experiência este ano, usando um jogo de perguntas e respostas cujo objetivo é fazer o “inquiridor” determinar o que o “entrevistado”, equipado com um EEG, está olhando a partir de uma lista de possíveis objetos. O inquiridor envia uma pergunta (por exemplo, “Será que isso voa?”). O entrevistado responde “sim” ou” não” concentrando-se mentalmente em uma das duas lâmpadas de LED piscantes ligadas ao monitor.

Ao focar na luz “sim”, o dispositivo EEG envia um sinal ao inquiridor através da internet para ativar uma bobina magnética posicionada atrás da sua cabeça, que estimula o córtex visual e faz o entrevistado ver um flash de luz. Um sinal de “não” funciona da mesma maneira, mas não é suficientemente forte para ativar a bobina.

O experimento, detalhado em setembro em um artigo publicado na revista PLoS ONE, é o “mais complexo cérebro-cérebro feito até agora em humanos”, ressaltou Stocco. Os participantes adivinharam o objeto correto em 72% dos jogos reais, em comparação com apenas 18% das rodadas de controle. Os pesquisadores estão explorando agora a possibilidade de transmitir conhecimento do professor para o aluno e de, em nível mais complexo, transferir sinais diretamente de cérebros saudáveis para aqueles que são deficientes mentalmente ou impactados por fatores externos, como um acidente vascular cerebral.

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Excerto

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“Acredita-se que todas as pessoas possuem forças telepáticas latentes, em diversas graduações, e que esses poderes podem ser treinados e desenvolvidos. E mais: a telepatia pode ser reforçada, ou amplificada, da mesma forma que as ondas de rádio. Por outro lado, as pesquisas indicam que pensamentos dirigidos a nós só podem adquirir força se algo dentro de nós corresponder àquele pensamento. Ao que parece, tudo depende de nossa estrutura parafísica, ou seja, do nosso modo de viver, sentir, agir, pensar.”

Elsie Dubugras, em “A telepatia”, O Mundo do Paranormal, 1987