Segundo a teoria da evolução, o isolamento físico é uma das causas principais das mudanças nos animais, que criam divergência de uma única espécie em duas ou mais. Agora, os pesquisadores descobriram que os obstáculos físicos – como um oceano ou uma cadeia montanhosa, por exemplo – não são necessários. A especiação pode ser impulsionada por diferenças simples na temperatura ambiente.

Uma equipe de cientistas da África do Sul e da Austrália, liderada por Peter Teske, da Universidade de Johannesburg, e Jonathan Sandoval-Castillo, da Universidade Flinders, na Austrália do Sul, analisou uma espécie comum de peixes de água salgada, o Knysna sand goby (Psammogobius knysnaensis), encontrado no litoral da África do Sul. A pesquisa foi publicada na revista Proceedings of the Royal Society B.

Embora, externamente, os Knysna sandgoby se pareçam muito entre si, a genética dos peixes é diferente. De um total de 8.532 sequências genéticas curtas geradas a partir de 109 indivíduos, os cientistas observaram diferenças importantes em genes codificadores de proteínas que estavam fortemente associados à tolerância à temperatura. E demonstraram uma correlação com a temperatura média da água dos locais de origem de cada um deles.

A temperatura da água na África do Sul varia de muito frio a bastante quente, dependendo da microrregião. As diferenças nas sequências genéticas dos peixes indicaram que as subpopulações estavam sofrendo mudanças que influenciaram a aptidão dos animais de acordo com as condições da água em que vivem.

Seguindo o estilo evolucionário clássico, os peixes com melhor adaptação genética de tolerância a temperaturas particulares são mais propensos a se reproduzir nessas biorregiões, por isso cada adaptação se tornou mais comum em determinado meio.

“Cada população regional já está adaptada ao seu habitat térmico preferido, e os migrantes que se dispersam em regiões próximas, que são muito quentes ou muito frias, não se sairão tão bem quanto os locais”, explica Teske.

Nesse estágio, as mudanças afetam apenas os genes adaptativos à temperatura. “Com o tempo, o restante do genoma vai acompanhar os genes selecionados pela temperatura e, mais tarde, a nova espécie também mudará morfologicamente. Só então eles serão reconhecíveis sem a ajuda de métodos genéticos”, diz o líder da pesquisa.