A Organização Meteorológica Mundial nos deu uma má e uma boa notícia nesta quinta-feira (27 de maio). A má é que até 2025 a temperatura global tem 40% de chance (e crescendo) de ultrapassar o limite de 1,5°C de aquecimento a partir do qual os impactos da crise climática se tornam muito difíceis de manejar. A boa, se é que dá para falar nisso, é que a ruptura dificilmente será permanente. Por enquanto.

O fantasma do chamado overshoot assombra a humanidade desde 2015, quando a COP21, a conferência do clima de Paris, concordou em inserir no tratado do clima uma meta “aspiracional” de limitar o aquecimento da Terra neste século a 1,5°C em relação à era pré-industrial.

Naquela época, os cientistas sabiam que, com o planeta já mais de 1°C mais quente, seria virtualmente impossível impedir que o limite fosse ultrapassado (essa ultrapassagem recebeu o nome em inglês de overshoot). A ideia era cortar emissões rapidamente de forma a que a temperatura média global, mesmo que ultrapassasse o limite, pudesse retornar o quanto antes a patamares menores e mais seguros.

Ultrapassagem próxima

O que pouca gente esperava é que a primeira ultrapassagem estivesse tão próxima. Embora o limite provavelmente já tenha sido brevemente rompido por alguns meses entre 2016 e 2017, o mundo ainda não passou um ano inteiro além de 1,5°C. Este não deve tardar. No Relatório de Atualização Climática Anual a Decadal, publicado nesta quinta-feira, a OMM afirma que é quase meio a meio a chance de que um ano qualquer dos próximos cinco anos assista a um overshoot. As médias anuais entre 2021 e 2025 devem ficar entre 0,9°C e 1,8°C acima do nível pré-industrial.

A organização, citando dados do Met Office, o instituto britânico de meteorologia, também afirma que é de 90% a chance de que algum dos anos entre 2021 e 2025 seja o mais quente da história, ultrapassando o recorde por ora estabelecido por 2016.

Em compensação, e sorria se puder, é de apenas 10% a chance de que a média global verificada entre 2021 e 2025 seja maior que 1,5°C.

A OMM informa que a chance de um overshoot dobrou em relação à última previsão porque o Met Office está usando uma nova base de dados climatológicos, o que fez com que o aquecimento estimado entre 1850 e 2020 saltasse de 0,91°C para 1,07°C. Em 2020, a Terra já estava 1,1°C mais quente que no período pré-industrial, e sobre os continentes, desconsiderando os oceanos, o 1,5°C já foi atingido.

Amazônia e Nordeste mais secos

O relatório lista outras previsões climáticas para o período 2021-2025. O Sahel, a imensa faixa semiárida ao sul do Saara, deve ver mais chuvas. O Ártico terá aquecido mais do que duas vezes mais rapidamente do que o restante do planeta. E o número de furacões no Atlântico Norte será ainda maior do que em anos recentes.

A probabilidade de que toda a América do Sul vivencie temperaturas acima da média é maior do que 90%. No mundo inteiro, apenas partes do Atlântico Norte ao sul da Temperatura média deve subir mais de 1,5°C nos próximos 5 anos, do Oceano Austral e do Pacífico Sul devem ficar imunes a aquecimento adicional. O que é mais preocupante, o centro-norte da América do Sul, onde estão partes da Amazônia e do Nordeste brasileiro, deve ser uma das regiões do mundo com maior redução de precipitação.

“O relatório da OMM mostra que estamos praticamente jogando uma moeda com o limite de temperatura do Acordo de Paris”, diz Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima. “Para que isso seja apenas momentâneo e possamos ficar dentro do aquecimento que a ciência diz que é mais seguro, os países precisam de metas mais ambiciosas de redução de emissões para 2030 e correr para zerá-las em 2050. Não podemos contar com a sorte.”