Uma das raras pendências na teoria da relatividade geral proposta há cem anos por Albert Einstein era a existência de ondas gravitacionais, oscilações no espaço-tempo causadas por gigantescos eventos cósmicos, como explosões de estrelas ou fusões de buracos negros. Essas ondas já haviam sido flagradas indiretamente em 1980, mas faltava uma evidência mais robusta para confirmá-las. Agora não falta nada. Em uma conferência de imprensa realizada em 11 de fevereiro em Washington, o físico americano David Reitze, diretor executivo do Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (Ligo), anunciou que as ondas haviam sido enfim detectadas.

A descoberta foi feita a partir da observação de dois buracos negros que colidiram e se fundiram há 1,3 bilhão de anos. Buracos negros são estrelas que entraram em colapso e sugam enormes quantidades de matéria ao redor, concentrando-as em uma área reduzida. No caso observado, os buracos negros tinham um diâmetro de cerca de 150 km, quase um terço da distância entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo os pesquisadores, a colisão gerou ondas que se espalharam à maneira das marolas formadas quando uma pedra é jogada em um lago. Depois de 1,3 bilhão de anos e trilhões de quilômetros percorridos, as ondas têm apenas um milésimo do tamanho de um próton. Mas ainda conseguem atravessar a matéria e esticar e comprimir o espaço. “Você pode ver que a Terra está sacolejando como gelatina”, disse Reitze.

A descoberta, que será publicada na revista Physical Review Letters, abre uma nova fronteira científica. Até então, os físicos usavam a luz, os raios X e as micro-ondas para observar o universo. Agora, poderão fazê-lo recorrendo às ondas gravitacionais. “Com essa descoberta, nós, humanos, estamos embarcando em uma nova e maravilhosa jornada: a jornada para explorar o lado deformado do universo – objetos e fenômenos que são feitos de espaço-tempo deformado”, afirma o físico americano Kip Thorne.

—–

Aposta certeira

Em ação desde 2002, o Ligo é composto por dois interferômetros em forma de L com 4 km de comprimento cada um. Um raio laser é dividido em dois feixes que viajam para a frente e para trás em seus braços, monitorando a distância entre espelhos colocados no fim desses braços.

As ondas gravitacionais conseguem mover ligeiramente esses espelhos. A distância de 3 mil km entre os interferômetros indica que a causa de um movimento simultâneo dos espelhos vem de fora da Terra. O sistema passou por ajustes em 2010 e 2015 e voltou a funcionar em setembro, detectando logo em seguida as ondas gravitacionais.