Estamos habituados à visão da Terra a partir do espaço. Mas ela não foi sempre assim nem ficará assim no futuro. Se a observássemos da Lua, há 80 milhões de anos, teríamos visto a Índia suspensa no meio do Oceano Índico e a Austrália colada na Antártida. Isso ocorre porque os continentes estão em movimento perpétuo.

Grandes correntes de calor se movem do núcleo da Terra para a superfície, onde fraturam a fina camada sólida externa – a crosta – em vários fragmentos ou placas tectônicas e a deslocam. Embora o movimento seja lento em termos humanos (um ritmo parecido ao do crescimento das unhas), ao longo de milhares de anos esse deslocamento pode levar os continentes a colidir uns com os outros, destruindo oceanos no processo, ou induzi-los a se separar, criando um oceano no espaço resultante. Essa remodelação afeta os padrões de ventos e as correntes oceânicas e também altera o clima global.

Há 200 milhões de anos, não reconheceríamos o planeta. Em vez dos continentes familiares de hoje, veríamos o supercontinente Pangea (“Toda a terra”, em grego) cercado por um único oceano. A fratura do Pangea teve inpacto considerável sobre o clima, pois uma passagem oceânica se abriu entre as duas massas de terra separadas, a Laurásia e a Gondwana.

Como as Américas do Norte e do Sul ainda estavam afastadas por mar na época, isso permitiu que correntes quentes oceânicas se movessem de leste a oeste ao redor do Equador. Os fluxos oceânicos só puderam circundar a Antártida quando a Austrália se separou dela, há cerca de 45 milhões de anos. Isso fez as temperaturas despencarem nas altas latitudes do sul.

No futuro, a superfície da Terra continuará a mudar. Hoje, a África está se “rasgando” embaixo da linha do Vale do Rift. Esse sistema de falhas geológicas se formou por cerca de 30 milhões de anos, conforme as placas Africana-Núbia, Africana-Somaliana e Arábica se afastavam. O processo já produziu a formação de uma cadeia de vulcões, que inclui os montes Kilimanjaro e Quênia. O Vale do Rift tem, em média, 48 km a 64 km de largura e se estende por 6.400 km, desde a Jordânia até Moçambique. Num futuro geológico não muito distante, um oceano começará a surgir ali. Foi por um processo parecido que a Austrália se separou da Antártida.

A África e a Austrália prosseguirão sua jornada para o norte até a África colidir com a Europa, fechando o Mar Mediterrâneo, e a Austrália colidir com o sudeste da Ásia. No oeste dos Estados Unidos, a hoje semiárida Califórnia deslizará até a costa do Alasca.

A Europa e a América do Norte continuarão a se afastar à medida que o Oceano Atlântico se alargar. As placas Eurasiana e Norte-Americana se encontram no meio do Atlântico. Elas são divergentes, ou seja, afastam-se uma da outra. Esse processo formou a cordilheira Dorsal Mesoatlântica, uma cadeia submarina de montanhas cujo cume emerge da água, bem no meio do Atlântico, em uma linha de vulcões formada pelas ilhas do arquipélago dos Açores.

Tais vulcões provam o alargamento do oceano, pois tendem a se formar nas margens das principais placas. A Dorsal Mesoatlântica corre para o sul, pois as placas Sul-Americana e Africana também são divergentes. Enquanto o Atlântico está cada vez maior, o Pacífico está encolhendo. Uma grande cadeia de vulcões e epicentros de terremotos ao redor da orla do Pacífico forma o chamado Anel de Fogo. Isso marca a zona de turbulência sísmica, onde a Placa do Pacífico está deslizando para baixo dos continentes ao redor.

Se olharmos daqui a 200 milhões de anos, veremos um novo Pangea se formando, com uma bacia oceânica no centro. Daqui a 500 milhões de anos, a Terra ficará quente demais para sustentar a vida humana e toda a água da superfície terá evaporado. Isso ocorrerá porque o Sol se torna mais quente conforme envelhece. Daqui a cerca de 5 bilhões de anos, esse processo fará o Sol se expandir a ponto de engolfar a Terra. Esse será o fim da história.

 

* O autor dirige a seção de Ciências da Terra da Unesco.