No século atual viajar o mundo e conhecer cada canto do planeta pode ser muito rápido e fácil. Basta alguns cliques no celular e já se pode averiguar tarifas, horários e taxas de câmbio. Os meios de transporte são cada vez mais cômodos e, no caso do continente americano, o sistema rodoviário liga quase todos os países, por meio da estrada Panamericana, com seus mais de 30.000 quilômetros de extensão, a maior do mundo, conectando o polo sul ao polo norte de nosso planeta.

Muitos aventureiros se atrevem a percorrer as Américas por meio das estradas. Nos dias de hoje as facilidades tecnológicas permitem acesso ilimitado a redes sociais, mapas e GPS mesmo estando nas frias cordilheiras da Patagônia argentina, no desértico Altiplano
boliviano e até mesmo na Amazônia colombiana. Uma pequena, porém importante, parte
deste imenso continente ainda permanece inacessível e “sem sinal”: a ligação terrestre entre Colômbia e Panamá.

Trecho da estrada Panamericana pouco antes de sua interrupção entre Colômbia e Panamá (Crédito: Luis Antonio da Cunha)

É no estado de Choco, extremo ocidente da Colômbia, que a América do Sul se conecta
com a América Central, a algumas centenas de quilômetros a leste da Cidade do Panamá. A região da selva do Darién é conhecida por ser uma das mais chuvosas zonas do mundo. Com pancadas praticamente todos os dias, o território de mais de 500.000 hectares não possui estradas, está infestado de animais selvagens e peçonhentos, além de
mosquitos transmissores da malária, febre tifoide e febre amarela.

Para completar o panorama, nessa zona operam guerrilhas e bandos que organizam o tráfico de drogas e de migrantes na região. Pessoas de muitos lugares do mundo têm o sonho de chegar aos EUA ou Canadá para fugir de guerras em seu país, e construir um novo lar. Entretanto, conseguir acesso à América Central por aeroportos para muitos imigrantes africanos e latinos é uma tarefa difícil, por isso arriscam partir da América do Sul por terra e tentar a sorte nas trilhas do Darién – uma selva fechada e perigosa -, até atingir a estrada Panamericana no Panamá e chegar por terra à América do Norte.

Região de selva da Colômbia em que operam guerrilhas e bandos que organizam o tráfico de drogas e de migrantes (Crédito: Arquivo pessoal de Luis Antonio da Cunha)

Talvez seja por esse motivo que os países do norte façam pressão política para que Colômbia e Panamá nunca se conectem por estradas. Viajar de avião da Colômbia ao Panamá dura menos de uma hora, e basicamente você sai de um grande centro urbano para entrar em outro. Perdendo assim todas as paisagens maravilhosas desta área misteriosa e selvagem. Para turistas aventureiros, há uma ótima oportunidade de atravessar entre América do Sul e Central de uma maneira um tanto incomum: em um veleiro em ritmo de festa.

Vindo da América do Sul, o ponto de partida é Cartagena das Índias, na Colômbia. Da marina de Manga, saem os barcos que por cinco dias cruzam o mar do Caribe, com três paradas estratégicas nas ilhas do arquipélago de San Blas, território dos indígenas Kuna Yala. Nessas ilhas paradisíacas o veleiro fica estacionado e, enquanto os tripulantes
preparam deliciosos pratos com frutos do mar, lagosta e peixes, todos pescados na zona
pelos nativos, os viajantes se divertem fazendo snorkeling, relaxando na praia e desfrutando as pequenas ilhas de areia fina e branca, recheadas de altos coqueiros.

Cunha a bordo do barco que faz a travessia entre América do Sul e Central (Crédito: Luis Antonio Cunha)

Conhecer o ecossistema do litoral caribenho, sua rica fauna marinha e seus corais multicoloridos, enquanto se observa ao longe o continente e a temida, porém magnífica, floresta do Darién, com suas lindas serras e quase que permanentes raios iluminando os céus na escuridão da noite, é uma maneira segura e muito confortável de conhecer a zona.

Os viajantes de moto ou de bicicleta podem levar o veículo no barco, o que é muito
mais cômodo do que enviá-lo por navio cargueiro, para depois esperar por dias que
chegue no Panamá. Dessa maneira não muito comum é que vários turistas fazem a travessia rumo aos próximos trechos dessa grande rota, que é a estrada Panamericana, tornando sua viagem única e inesquecível.

Sobre Luis Antonio da Cunha
Luis Antonio da Cunha tem 26 anos, é desenhista industrial e nos últimos 3 anos tem
vivido a maravilhosa experiência de viajar pela América Latina com apenas alguns
pertences amarrados em uma bicicleta. No momento ele está cruzando a América Central
e a América do Norte.
Conheça mais sobre o projeto de viajar as Américas em uma bicicleta de Luis Antônio Cunha, autor deste artigo, em seu blog A Vida Virou Um Risco. Não hesite em enviar uma mensagem com suas dúvidas ou comentários.