Em evento da maior central sindical alemã, Olaf Scholz diz que Rússia age como “imperialista” e defende envio de armas a Kiev. Sindicalistas alertam que corrida armamentista não deve ocorrer às custas de gasto social.Os protestos de 1º de Maio na Alemanha, que costumam ser marcados por reivindicações de direitos sociais e trabalhistas, tiveram neste ano também como pauta a invasão da Ucrânia pela Rússia.

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, discursou em um evento em Düsseldorf organizado pela central sindical DGB, a maior do país europeu, e acusou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de agir como um imperialista. Scholz lembrou que a Rússia, antes de invadir a Ucrânia, já havia atacado outros países durante o governo Putin, e afirmou que a expansão territorial por meio da força não poderia ser admitida.

“Isso é imperialismo. Não queremos isso na Europa”, afirmou Scholz. “Não permitiremos que fronteiras sejam alteradas e territórios sejam conquistados por meio da força.” A Rússia há havia invadido a Geórgia em 2008, conquistou o controle da Península de Crimeia em 2014 e tem militares em uma região da Moldávia, que se autoproclama República da Transnístria.

O chanceler federal alemão afirmou que Berlim seguirá apoiando a Ucrânia com dinheiro, apoio humanitário e armas. Ele disse que respeitava os pacifistas, mas disse que considerava uma postura “cínica” dizer aos cidadãos ucranianos que eles precisavam se defender contra os russos, sem que eles tenham armas para tanto. O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, aprovou na quinta-feira o envio de armas pesadas e sistemas complexos de defesa à Ucrânia, após semanas de hesitação sobre o tema.

Scholz também expressou preocupação de que a guerra na Ucrânia terá consequências críticas para a produção de alimentos, com potencial de provocar “uma crise mundial de fome”. Durante seu discurso, manifestantes críticos ao envio de armas para a Ucrânia vaiaram o chanceler federal alemão, chamando-o de “belicista” e “mentiroso” e gritaram palavras de ordem como “estabelecer a paz sem armas”.

As manifestações do 1º de Maio na Alemanha começaram na noite de sábado, quando centenas de mulheres participando de uma manifestação feminista no centro de Berlim, visando condenar principalmente a violência contra a mulher. A capital alemã contou ainda com outros atos durante a noite, incluindo protestos contra o aumento dos aluguéis e contra a abertura de uma nova delegacia policial no bairro de Kreuzberg.

Sindicatos: Esforço militar não deve reduzir gastos sociais

O presidente do sindicato Verdi, que representa trabalhadores do setor de serviços, Frank Werneke, afirmou em um evento em Mainz que o órgão apoiava as sanções econômicas contra a Rússia, e ressaltou que o debate sobre a segurança na Europa não deveria ser conduzido “somente sob uma perspectiva militar”.

Tendo como pano de fundo a decisão de Berlim de investir 100 bilhões de euros para modernizar as Forças Armadas Alemãs (Bundeswehr), ele disse ser contrário a uma corrida armamentista “que ocorra às custas de investimentos urgentes em questões sociais, educação e proteção do clima”.

Segundo ele, a Alemanha precisa ser capaz de se defender, mas o objetivo deveria continuar sendo um mundo com menos armas.

A presidente do sindicado GEW, Maike Finnern, que representa os trabalhadores do setor da educação, defendeu a criação de um fundo especial de 100 bilhões de euros – mesmo valor do fundo especial militar – para gastos em educação. “Oportunidades iguais de educação são cruciais para o desenvolvimento da nossa sociedade”, afirmou ela em uma manifestação em Essen.

bl (dpa, AP, ots)