Objetos voadores não identificados – os UFOs (em inglês) ou OVNIs (em francês), abreviaturas pelas quais ficaram conhecidos – sempre foram tratados pelos governos em geral como um assunto secreto e, por motivos de segurança, sua existência era negada à população. A diferença nesse sentido era a França, que durante anos manteve um boletim de ocorrência específico para supostos avistamentos ufológicos. No século 21, porém, as coisas começam a mudar nesse território nebuloso. Depois de o governo francês abrir seus arquivos ufológicos oficiais, em março de 2007, chegou a vez da Grã-Bretanha, que promete fazê-lo ainda no primeiro semestre deste ano.

O material a ser divulgado refere- se às investigações que um departamento secreto do Ministério da Defesa britânico, o DI55, fez acerca de sete mil casos ufológicos ocorridos em seu território ou relacionados a aeronaves do país nos últimos 30 anos.

Em dezembro, o Directorate of Air Space Policy, a agência governamental responsável por filtrar informações sensíveis, autorizou a liberação desse material a fim de, segundo funcionários graduados do ministério, conter o “labirinto de rumores e especulações” sobre o alegado envolvimento do governo britânico com os UFOs.

Para Nick Pope, líder do DI55 entre 1991 e 1994, os arquivos liberados são uma leitura bem interessante: “O que quer que a pessoa pense sobre os UFOs, esses documentos são fascinantes e mostram como o Ministério da Defesa pesquisou e investigou esse mistério por cerca de 60 anos, sem uma resposta.”

A permissão para a divulgação já veio associada a um temor oficial: o de que a procura por essas informações seja tão intensa que cause um colapso como o observado no site da agência espacial francesa (CNES), o qual veiculou os documentos sobre o tema liberados por seu governo. Especialistas em tecnologia da informação já trabalham para impedir que isso se concretize.

Há vários casos famosos na lista a ser divulgada. Um deles é o de Rendlesham, conhecido como o “Roswell da Grã-Bretanha”, em alusão ao suposto choque de um UFO contra o solo no Novo México (EUA) há 60 anos. Diversas testemunhas disseram que uma nave alienígena teria pousado na Floresta de Rendlesham (leste da Inglaterra) em uma noite de 1980.

Segundo essas pessoas, o casco da nave continha inscrições semelhantes a hieróglifos egípcios, e extraterrestres teriam saído dela. Embora um homem declarasse depois que era tudo fraude, surgiram boatos persistentes de que o local ficara contaminado por radiação após o pouso – uma possibilidade investigada pelo DI55.

Outro caso, este com testemunhas qualificadas – a tripulação de um bombardeiro Vulcan da Real Força Aérea (RAF) –, ocorreu na manhã de 26 de maio de 1977 sobre a Baía de Biscaia, no Oceano Atlântico.

O avião fazia exercícios de treinamento quando os homens a bordo – o capitão, o co-piloto e três navegadores – viram um objeto aproximar-se a cerca de 13.100 metros acima do nível do mar. A partir daí, o UFO perfilou-se e acompanhou o curso do Vulcan por quase 6,5 quilômetros.

De acordo com as informações que a tripulação passou a uma base da RAF em Scampton, a nave parecia emitir luzes de balizamento, com um longo feixe de luz, semelhante a um lápis, à frente. Quando o UFO passou a acompanhar o Vulcan, no entanto, as luzes deram lugar a uma difusa luminosidade laranja, com um verde brilhante fluorescente na sua parte direita traseira. Em seguida, os homens a bordo disseram que um objeto misterioso “saiu do meio da luminosidade na direção oeste (…), subindo a uma velocidade muito alta a um ângulo de 45 graus”.

Os navegadores do Vulcan registraram interferência na tela de radar do bombardeiro na direção do UFO, que continuou por 45 minutos após o avião rumar para a Grã-Bretanha. A câmera acoplada ao radar foi examinada depois pela inteligência da RAF, que notou uma “forte resposta” originária da direção do avistamento.

Segundo os registros, a imagem vista foi uma “sombra alongada” de um “objeto de grande porte” viajando a uma altitude similar à do bombardeiro. O DI55 enviou no mesmo dia um informe ao Ministério da Defesa, descrevendo o caso e afirmando que a tripulação “era incapaz de oferecer uma explicação lógica para o avistamento”.

Episódios como esse jogam água fria no entusiasmo que cerca a liberação das informações. No arquivo sobre o caso não há indícios da opinião final do DI55 ou do destino dado ao filme do radar. Para alguns estudiosos, isso sugere que os incidentes ufológicos em geral são atividades militares supersecretas. Para outros, a falta de conclusões significa que as autoridades também não sabem ao certo com o que estão tratando.