Até onde vai a capacidade dos cães de interagir com as emoções humanas e de outros animais da sua espécie? Pesquisadores da Universidade de Viena trouxeram uma nova contribuição para essa área em um estudo divulgado em julho na revista Animal Cognition. Suas descobertas indicam que os cães podem absorver as emoções de ambas as espécies e inclusive distinguir entre sentimentos positivos e negativos – um indicativo de que eles podem possuir um dos elementos básicos da empatia.

Os pesquisadores convidaram donos de cães a levar seus cachorros para o laboratório, onde alto-falantes foram colocados em diferentes pontos ao redor de uma sala. Sem coleira, os cães receberam cobertores para se deitar perto de onde seu proprietário estava sentado. Munidos de fones de ouvido, os donos ficaram lendo livros, a fim de que suas reações não influenciassem o experimento. Enquanto isso, a intervalos variados um dos alto-falantes transmitia sons como latidos brincalhões ou ganidos de cães (emoção positiva e negativa), riso ou choro de humanos, sons de objetos inanimados (chuva ou folhas ao vento) e sons de animais ou humanos sem conteúdo emocional (como a estridulação – o “cri-cri” – de um grilo ou sons de uma pessoa envolvida em conversas não emocionais).

As reações dos cães foram filmadas para análise. Os analistas do vídeo, que não sabiam quais sons haviam sido tocados, procuraram sinais de que os cães estavam prestando atenção ou aproximando-se dos alto-falantes. Eles também analisaram os comportamentos que outras pesquisas haviam associado a excitação ou aflição dos cães, como latidos, ganidos, bocejos ou lambidas nos lábios, e criaram uma pontuação baseada na duração e na intensidade do comportamento.

A avaliação revelou que os cães prestaram mais atenção nos alto-falantes quando ouviram conteúdo emocional (emoções positivas ou negativas vocalizadas por um humano ou outro cão) do que quando os sons não envolviam emoções. Além disso, eles tiveram pontuações mais altas no geral e em um comportamento – ficar na posição de sentido – quando ouviram sons emocionais negativos em comparação com os positivos, o que indica que eles reconheceram a diferença entre angústia e felicidade. O estudo austríaco é o primeiro a mostrar que os cães distinguem entre emoções positivas e negativas em outros seres.

Surpresa

“Ficamos surpresos com a forma como os cães responderam a sons emocionais positivos”, diz a líder da pesquisa, Annika Huber. “Eles prestaram o mesmo nível de atenção nos sons emocionais negativos, mas não expressaram comportamentos de emoção negativa da mesma maneira.” O modo como os cães responderam à emoção negativa era curiosamente idêntico, quer ela fosse manifestada pelos seres humanos ou pelos cães. A exceção foi a posição de sentido, cuja resposta foi mais evidente para sons de cães do que para sons humanos. Os resultados sugerem que o contágio emocional ocorre entre as espécies, talvez inconscientemente.

“Uma vez que os cães compartilham seu ambiente natural com nós, humanos, nossas vocalizações emocionais provavelmente serão relevantes para eles”, diz Annika. “Isso indica nosso relacionamento próximo”. Pesquisas anteriores haviam revelado que os cães reagem a humanos em perigo com comportamentos reconfortantes, mas não está claro se essas respostas são deflagradas pelos próprios sentimentos do cão ou modeladas por experiências anteriores. O estudo austríaco aponta para a possibilidade de que os sentimentos dos cachorros às vezes refletem o nosso. “Se os cães expressam cada vez mais comportamentos que indicam estados emocionais negativos em resposta a sons emocionais negativos, é razoável interpretar isso como sendo impulsionado pelo contágio emocional”, diz Annika.

De acordo com a pesquisadora, o estudo indica que os cães têm mais capacidades emocionais do que percebemos. Isso poderia ter implicações para situações de interação entre cães e humanos, como quando são utilizados como animais de terapia ou vivem em uma família como animais de estimação. “Se os cães são afetados exatamente ao ouvir vocalizações emocionais, deveríamos nos conscientizar do estado emocional­ desses animais em nosso contato cotidiano com eles”, afirma.