Já ouviu falar de cocolitóforos? Os cocolitóforos (ou cocolitoforídeos) são algas microscópicas que formam minúsculas placas de calcário, chamadas cocólitos, em torno de suas células individuais. A forma e o tamanho dos cocólitos variam de acordo com a espécie. Um detalhe científico relevante sobre esses seres minúsculos: após sua morte, os cocolitóforos afundam no oceano e seus cocólitos se acumulam em sedimentos, que registram fielmente a evolução detalhada desses organismos ao longo do tempo geológico.

Uma equipe de cientistas liderada por pesquisadores do CNRS 1 (França) mostrou, em artigo publicado na revista Nature, que certas variações na órbita da Terra influenciaram a evolução dos cocolitóforos. Para chegarem a essa conclusão, eles mediram e classificaram, usando técnicas de microscópio automatizado e inteligência artificial, nada menos que 9 milhões de cocólitos, abrangendo um intervalo de 2,8 milhões de anos e vários locais no oceano tropical.

Os pesquisadores observaram que os cocólitos passaram por ciclos de maior e menor diversidade em tamanho e forma, com ritmos de 100 e 400 mil anos.

Os coccolitóforos, um importante constituinte do plâncton, evoluíram seguindo o ritmo da excentricidade orbital da Terra. Crédito: Luc Beaufort/CNRS/Cerege
Formato da órbita

Eles também propõem uma causa: a forma mais ou menos circular da órbita da Terra em torno do Sol, que varia no mesmo ritmo. Assim, quando a órbita da Terra é mais circular, como é o caso hoje (isso é conhecido como baixa excentricidade), as regiões equatoriais apresentam pouca variação sazonal e espécies pouco especializadas dominam todos os oceanos. Por outro lado, conforme aumenta a excentricidade e estações mais pronunciadas aparecem perto do equador, os cocolitóforos se diversificam em muitas espécies especializadas, mas coletivamente produzem menos calcário.

Crucialmente, devido à sua abundância e distribuição global, esses organismos são responsáveis ​​por metade do calcário (carbonato de cálcio, parcialmente composto de carbono) produzido nos oceanos. Desse modo, eles desempenham um papel importante no ciclo do carbono e na determinação da química dos oceanos.

Portanto, é provável que os padrões de abundância cíclicos desses produtores de calcário tenham desempenhado um papel fundamental em climas antigos e podem explicar variações climáticas até então misteriosas em períodos quentes anteriores. Em outras palavras, na ausência de gelo, a evolução biológica das microalgas poderia ter definido o ritmo dos climas. Essa hipótese ainda precisa ser confirmada.