Em 2017, enquanto explorava geleiras rochosas no Himalaia, a eco-hidróloga Karen Anderson notou que arbustos e gramíneas pareciam estar prosperando em muitas das encostas das montanhas de alta altitude. Isso a levou a perguntar-se: “Existe mais cobertura vegetal agora do que no passado?”

A questão parece simples, mas a resposta tem implicações complexas e importantes para o ciclo hídrico da região, revela o site Earth Observatory, da Nasa. Pesquisas em outras partes do mundo mostraram que mudanças no tipo e extensão da vegetação podem levar a alterações nos fluxos e nos estoques de água. Assim, uma expansão de plantas no Himalaia – não apenas o recuo das geleiras – poderia afetar o abastecimento de água para um quinto da população humana da Terra.

Mas ainda não está claro como essa relação planta-água vai se desdobrar. “Há tanta falta de informação sobre a ecologia do Himalaia nessa zona de alta altitude, pelo menos na ciência ocidental, que não entendemos realmente quais serão os impactos da mudança da vegetação”, disse Anderson. “A maioria das expedições científicas ao Himalaia foi para as geleiras, que têm sido uma área de grande preocupação à medida que recuam sob as mudanças climáticas.”

No alto: análise de dados de satélite mostra expansão de vegetação em altitudes elevadas da cordilheira do Himalaia entre 1993 e 2017. Acima, detalhe da área avaliada. Crédito: Imagens do Nasa Earth Observatory por Joshua Stevens, com dados fornecidos por cortesia de Anderson, K., et al. (2021)
Dados de satélite

Anderson e seus colegas começaram a avaliar como a vida vegetal mudou no Hindu Kush, cordilheira no oeste do Himalaia, ao longo de 26 anos. Eles se concentraram em elevações acima da linha das árvores, mas abaixo da neve e do gelo permanentes. Nessa área, conhecida como zona alpina, podem-se encontrar plantas arbustivas e neve sazonal. No Himalaia, a zona geralmente inclui altitudes entre 4.100 e 6.000 metros acima do nível do mar.

A altitude elevada e o afastamento da região aumentam o desafio de estudar suas plantas. Mas Anderson, baseada na Universidade de Exeter (Reino Unido), não precisou retornar ao Nepal para iniciar a investigação. Em vez disso, ela e seus colegas usaram o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, ou NDVI, derivado dos satélites Landsat. O NDVI fornece uma indicação do verde da terra, que os cientistas usaram para mapear a abundância de vegetação na zona alpina de 1993 a 2018. Eles verificaram a precisão de seus mapas com imagens do Google Street View e as fotografias que Anderson tirou durante seu trabalho de campo em 2017.

Os mapas acima mostram a extensão da vegetação em 1993 (verde-amarelo) e 2017 (verde-escuro). Eles abrangem a área montanhosa ao redor do Monte Everest e Dingboche, Nepal, uma vila nas montanhas a uma altitude de 4.410 metros. Há pequenos, mas significativos, aumentos na cobertura vegetal até 2017. Os aumentos tendem a ser mais substanciais em encostas mais íngremes em altitudes mais baixas e em áreas mais planas em altitudes mais elevadas. Os resultados foram publicados na revista Global Change Biology.

Questão importante

“Este trabalho foi o primeiro passo para tentar explorar a escala desse ecossistema, descrever como ele está mudando e discutir as prováveis ​​​​implicações”, disse Anderson.

Por exemplo, foi demonstrado que a expansão de plantas em outras partes do mundo altera o ciclo da água ao interceptar a chuva ou aprisionar a neve. As plantas também podem aquecer o solo por meio de efeitos impulsionados pelo albedo (albedo é a refletividade difusa ou poder de reflexão de uma superfície) e podem resfriar o ar por meio da evapotranspiração.

“À medida que as geleiras recuam e as plantas se expandem com as mudanças climáticas, o que isso significa para a segurança da água?” perguntou-se Anderson. “Acho que essa é uma questão muito importante e algo que meu grupo de pesquisa está levando adiante.”