Que o otimismo (assim como o pessimismo) tem relação com o sistema imunológico humano não é novidade: várias pesquisas já registraram a existência desse vínculo. Hoje, é ponto pacífico que tudo – de uma briga familiar a uma promoção no trabalho – pode, dependendo de sua polaridade, tanto abrir espaço para uma doença e atrasar a recuperação como estimular a cura. Mas, ao compararem apenas otimistas com pessimistas, os estudos deixavam em aberto a possibilidade de que outros fatores, como personalidade e hereditariedade, também influenciassem a resposta imunológica. Um dos flancos abertos nessa área – como flutuações na intensidade do otimismo afetam a relação com o sistema imunológico – já começou a ser abordado, e um estudo divulgado recentemente nos Estados Unidos mostrou, em linhas gerais, que o grau de otimismo tem, sim, influência na regulação da imunidade.

A pesquisa, coliderada por Suzanne Segerstrom, professora de psicologia da Universidade de Kentucky e um dos mais conhecidos nomes na área da psicologia positiva, acompanhou as mudanças do otimismo e da resposta imune entre alunos do primeiro ano do curso de direito da Universidade de Kentucky. As informações coletadas revelaram que, conforme tornavam-se mais otimistas, os calouros exibiam uma imunidade mediada por células (o fluxo de células do sistema imunológico que responde a uma invasão por vírus ou bactérias externos) mais forte. O inverso também ocorreu: quando o otimismo caía, a imunidade mediada por células também decrescia.

 

Ligação mais forte

“Mostrar que um único indivíduo – com a mesma personalidade e genes – tem função imunológica diferente quando se sente mais ou menos otimista proporciona uma ligação mais forte entre os dois”, afirma Suzanne. Para chegar a essa conclusão, ela convidou 124 alunos que haviam ingressado em direito e solicitou-lhes que respondessem a cinco questionários e testassem sua imunidade durante um ano. Os questionários mediram o otimismo dos alunos por meio de sua identificação com frases como “Vou ser menos bem-sucedido do que a maioria dos meus colegas”.

Uma dose de vírus da caxumba morto ou levedura de cândida foi injetada sob a pele do antebraço, a fim de testar a imunidade. O sistema imunológico responde a essa “agressão” produzindo um pequeno inchaço no local da injeção, e é medindo essa protuberância que os pesquisadores avaliam a força da resposta imune.

As vivências de aulas, provas e entrevistas de estágio fizeram os níveis de otimismo dos estudantes subirem e descerem. Sua imunidade mediada por células seguiu um caminho similar: um incremento no otimismo elevava a resposta imune; uma queda a enfraquecia.

A aferição do vínculo otimismo- sistema imunológico foi feita pelos cientistas a partir de um cálculo estatístico denominado “tamanho do efeito”. No caso do otimismo, o tamanho do efeito registrou 0,19. Para comparar, diz Suzanne, o tamanho do efeito na massa óssea quando uma pessoa normal toma cálcio é 0,08, e o da ingestão de remédio para pressão arterial em relação ao seu risco de derrame é de 0,03. “Assim, à luz dessas outras relações biomédicas que consideramos grandes e importantes, esse efeito certamente se coadunaria”, observa a cientista.

Para Suzanne, os dados coletados indicam ainda que o aumento de emoções positivas pode ter responsabilidade parcial pela influência do otimismo sobre a imunidade. O passo seguinte, afirma a cientista, é investigar essa relação em pessoas mais velhas, cujo sistema imunológico poderia estar mais frágil e vulnerável a infecções.

QUANDO OS VOLUNTÁRIOS DA PESQUISA TORNAVAM -SE MAIS OTIMISTAS , SUA IMUNIDADE AUMENTAVA; QUANDO O OTIMISMO CAÍA, A IMUNIDADE DECRESCIA