Elas não possuem patas nem garras, e mesmo assim são exímias caçadoras. Afinal, quem precisa dos atributos físicos de um leão quando se tem um corpo musculoso capaz de constringir a vítima até a morte e, em 15% dos casos, inocular nela venenos terríveis?

As cobras, também chamadas de serpentes, são maravilhas da natureza. O veneno que produzem, um composto tóxico capaz de matar a maior parte dos seres vivos, desempenha um papel fundamental no metabolismo desses animais. “O veneno da cobra é como se fosse uma ‘glândula salivar’ cuja secreção é especializada em paralisar, lubrificar e iniciar a digestão da vítima”, explica Marisa Rocha, pesquisadora do Instituto Butantan, de São Paulo. Ao mesmo tempo, esse composto é usado na farmacologia humana em remédios para algumas doenças, como as relacionadas à pressão. Atualmente, estuda-se o seu potencial para a cura de certos tipos de câncer.

Tipos básicos de veneno
O veneno pode possuir duas ou mais ações diferentes. A toxina da cascavel, por exemplo, apresenta ações miotóxicas (relacionadas aos músculos) e neurotóxicas (relativas aos nervos). A seguir, as três categorias básicas que um veneno pode apresentar:

1- As citotoxinas (toxinas que agem sobre as células) constituem a forma mais primitiva de veneno encontrada nas serpentes nos dias de hoje. Mas um método antigo de ação não significa necessariamente ineficácia. A atividade citotóxica ocorre geralmente no local da ferida e tem como característica iniciar a digestão dos tecidos antes mesmo de a presa ser engolida. Esse tipo de veneno destrói as membranas das células, especialmente as musculares, resultando na morte rápida dos tecidos.

2- As hemotoxinas agem de duas formas diferentes. Na primeira, atacam as células vermelhas do sangue e acabam destruindo também as veias. Assim, a vítima morre de hemorragias internas e externas. Um veneno que possui essas propriedades é o da jararaca. Outro tipo de ação das hemotoxinas é precipitar a coagulação do sangue, de modo que o líquido não consiga passar pelas veias e artérias, ocasionando a parada do fluxo sangüíneo. Uma serpente cuja toxina causa esse tipo de efeito é a víborado-gabão, da África.

3- As neurotoxinas, por sua vez, afetam o sistema nervoso tanto bloqueando os impulsos nervosos – paralisando a presa, que sofre parada respiratória – quanto aumentando-os, de modo a levá-lo ao colapso. Este último efeito pode causar ataques epilépticos quando todos os músculos se contraem ao mesmo tempo, seguidos de morte. As toxinas que agem no sistema nervoso têm efeito muito rápido. Esse tipo de veneno é encontrado nas cascavéis e nas corais.

O veneno é uma substância de estrutura complexa formada por água, enzimas, proteínas, carboidratos e outros compostos inorgânicos, como o zinco. Ele pode ser classificado em três categorias principais básicas: citotóxico, hemotóxico (ambos presentes na jararaca) e neurotóxico (presente na coral verdadeira e na cascavel). O tipo de veneno e sua ação têm a ver com os hábitos de vida de cada espécie.

A jararaca, serpente brasileira do gênero Bothrops, habita matas úmidas e possui um veneno fatal – pelo menos para os pequenos pássaros dos quais se alimenta. Se sua toxina não os abater e eles fugirem, cairão ao chão um pouco mais adiante e se tornarão a refeição de algum outro animal.


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As condições particulares do organismo das cobras não lhes permitem caçar todos os dias. Elas são animais pecilotermos (que, tal como peixes, anfíbios e répteis, possuem temperatura variável, não muito distinta da temperatura ambiente). Fazem a digestão muito lentamente. Além disso, uma serpente leva, em média, duas semanas para produzir uma nova quantidade de veneno. Por causa disso, elas não podem se dar ao luxo de deixar uma presa escapar.

Cada espécie de cobra desenvolveu sua técnica particular de caça. Algumas dão o bote, injetam o veneno na presa e a deixam “fugir”. A atividade física faz com que o veneno circule ainda mais rapidamente na corrente sanguínea do animal, abreviando seu tempo de vida. Em seguida, a cobra rastreia a vítima – que muitas vezes urina no caminho devido à ação do veneno – utilizando seu sentido mais poderoso: o olfato.

Outras espécies, como a cobra-rei, possuem uma toxina capaz de matar um elefante em pouco tempo. Mas a principal refeição dessa serpente está longe de ter dimensões tão grandes. Ela se alimenta de outras cobras e, por isso, precisa de um veneno mais “tóxico”, já que serpentes, por sua natureza, são praticamente imunes a venenos.

O formato dos dentes ou a toxicidade do veneno não determinam quão perigosa uma cobra pode ser. O temperamento do animal, a quantidade de toxina injetada e os efeitos que ela produz no corpo da presa são fatores muito mais decisivos no momento do ataque. “Todos os venenos produzidos por serpentes são potentes,” explica Giuseppe Puorto, diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan. “O que os diferencia são os efeitos que causam. Por exemplo, a cascavel encontrada nas regiões Sudeste e Nordeste possui um veneno que ataca o sistema nervoso e os rins. Assim sendo, para o homem, ela é mais fatal.”

No Brasil, a espécie que mais ocasiona acidentes é a jararaca, responsável por cerca de 90% dos ataques, mas o número de óbitos deles decorrentes chega a apenas 0,5% dos casos. A cascavel tem um índice de acidentes bem menor – cerca de 8% dos casos -, mas a taxa de mortalidade chega a 2%. Geralmente, as serpentes ficam escondidas e camufladas, e por esse motivo as pessoas as pisam, ou as seguram e apertam, ocasionando os ataques.


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Instituto Vital Brazil (IVB), fundado em 1919, em Niterói, se mantém ainda hoje como pioneiro na pesquisa científica e produção de antídotos contra picada de animais peçonhentos (cobras, aranhas e escorpiões), além de outros medicamentos e vacinas. (Crédito: Carlos Magno)
Instituto Vital Brazil (IVB), fundado em 1919, em Niterói, se mantém ainda hoje como pioneiro na pesquisa científica e produção de antídotos contra picada de animais peçonhentos (cobras, aranhas e escorpiões), além de outros medicamentos e vacinas. (Crédito: Carlos Magno)

“Nos primeiros-socorros em caso de picada de cobra, é mais importante o que não fazer do que o que fazer”, ressalta Puorto. Segundo a crença popular, ao ser atacada por uma serpente, a pessoa deve chupar o sangue, amarrar o local para que não haja circulação sanguínea e até mesmo cortar a região ferida. “Se você cortar o local da picada, correrá o risco de abrir uma porta para alguma infecção secundária”, alerta Marisa. Ao se acidentar, o paciente deve lavar o ferimento com água e sabão, de preferência, para que microrganismos da saliva da cobra não infeccionem a ferida. Em seguida, a vítima deve ser imediatamente levada ao hospital.

Antídoto
Nem todos os municípios possuem o soro antiofídico, único remédio realmente eficaz para picada de cobra. “Os postos que têm o soro são locais que possuem boas condições de atendimento e infra-estrutura para manter a qualidade do medicamento”, explica Puorto. O soro precisa ser mantido a 8º C e não pode ser congelado nem sofrer mudança brusca de temperatura. Além disso, a validade de um soro é de três anos, em média. “O hospital, quando possui uma boa estrutura, é capaz de atender ocorrências nos municípios vizinhos em pouco tempo.”

Possuir uma equipe de atendimento de qualidade é essencial para a sobrevivência dos acidentados. Cada espécie de cobra inocula um tipo de veneno diferente e, por isso, somente um soro específico consegue neutralizá-lo. No Instituto Butantan são produzidos seis tipos de soro para curar picadas de Bothrops (espécie que inclui a jararaca), Crotalus (cascavéis), Lachesis (surucucus) e Micrurus (corais).

O Instituto tem investido em pesquisas para a produção do antídoto liofilizado, o soro antiofídico em pó. “É um soro diluído em água destilada para ser aplicado”, afirma Puorto. Uma alternativa revolucionária, com propriedades três-em-um (capaz de neutralizar o veneno de três gêneros de cobras), e que não precisa de ambiente específico de conservação. O produto já está circulando no País, mas sua eficácia ainda é estudada. “No Brasil, ainda estamos testando esse soro para ver se ele mantém a potência e se não perde suas características”, acrescenta.

Além do soro antiofídico, outros produtos, principalmente medicamentos, podem ser gerados a partir desse “santo veneno”. A primeira propriedade do veneno de cobra utilizado em remédios foi extraída em 1949, da peçonha da Bothrops jararaca. O veneno desse animal faz com que os vasos sangüíneos se dilatem e a pressão arterial da presa caia, o que a deixa mais lenta. Este ano, pesquisadores do Instituto Butantan começaram a estudar a possibilidade de utilizar as propriedades do veneno de jararaca para medicamentos contra pré-eclâmpsia, a hipertensão durante a gravidez, mal que atinge cerca de 10% das gestantes brasileiras.

Recentemente, foi testado com sucesso um adesivo de fibrina (feito do fibrogênio derivado do plasma de búfalos) e enzimas de veneno de cobra capaz de acelerar a cicatrização de cortes cirúrgicos. O estudo foi feito pela brasileira Mônica Barbosa, da Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo.

Cientistas observaram que os venenos sempre atuam em tipos específicos de células. Esse fato chamou a atenção de pesquisadores na busca de um tratamento menos agressivo para pacientes com câncer. A quimioterapia, apesar de eficaz, causa efeitos colaterais desagradáveis, como náuseas, uma vez que, como não sabe distinguir células cancerosas de sadias, ataca ambas. Está em andamento uma pesquisa que pretende utilizar o veneno de cobra para destruir os vasos sangüíneos que alimentam o tumor, literalmente matando- o de fome.

 

O que não se deve fazer em caso de acidente
  • Amarrar o membro ferido – Isso, além de não impedir a absorção do veneno, pode dificultar a circulação do sangue, ocasionando necrose.
  • Cortar o local da picada – Alguns venenos provocam hemorragias e, assim, o corte só irá piorar a situação – sem contar que o corte secundário abrirá uma porta para novas infecções.
  • Chupar o local da picada – É medida inútil e perigosa; após a inoculação, é impossível retirar o veneno do corpo.
  • Colocar ervas, pó de café e querosene no ferimento – Isso só provoca infecção no local da picada.
  • Dar para beber ao paciente querosene ou álcool, entre outras bebidas do gênero – Pode provocar intoxicação.

Serviço:
www.butantan.gov.br
www.vitalbrazil.rj.gov.br
www.cve.saude.sp.gov.br/htm/cve_peconhentos.html


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