Poucas pessoas poderiam duvidar que a poluição do ar prejudica a saúde humana, mas as pesquisas iniciais a esse respeito, feitas na década de 1970, ainda padeciam de dados imprecisos ou de difícil verificação. Os resultados ficaram mais conclusivos à medida que as técnicas de monitoramento se aprimoraram, e atualmente os estudos no setor formam um corpo de evidências cada vez mais ampliado contra os poluentes que transitam no ar.

Ainda no primeiro semestre, quatro trabalhos adicionaram novos e preocupantes dados a essa área. O primeiro, feito na China, avaliou o peso de 83.672 bebês nascidos na poluidíssima Pequim na época das Olimpíadas, em 2008. Nesse período, o governo do país interrompeu as atividades em indústrias poluidoras, paralisou construções, elevou restrições a emissões de veículos e aplicou um rodízio para reduzir o número de carros e caminhões nas ruas.

As medidas, que baixaram os níveis de poluição na capital chinesa entre 18% e 59% no verão de 2008, resultaram em um aumento de peso médio de 23 gramas nos bebês que estavam no oitavo mês de gestação na época, na comparação com os nascimentos no mesmo período em 2007 e 2009. Outro estudo, realizado no Instituto Max Planck­ de Química (Alemanha), revelou que o ozônio e o dióxido de nitrogênio, emitidos por veículos a motor, podem agravar as alergias.

Usando testes de laboratório e modelos de computador, os pesquisadores descobriram que esses poluentes uniram as proteínas de um tipo de pólen de bétula, criando um alérgeno mais potente. “Nossa pesquisa mostra que alterações químicas de proteínas alergênicas podem ter um papel importante no aumento da prevalência de alergias em todo o mundo”, diz Christopher Kampf, coautor do estudo.

Os outros dois trabalhos vieram dos Estados Unidos. No primeiro, a equipe da pesquisadora Stephania Cormier, da Universidade Estadual da Louisiana, mostrou que o EPRF (sigla em inglês de radical livre ambientalmente persistente), presente no material emitido por cigarros, carros, fábricas, fogões de cozinha, incineradores de resíduos e madeira incendiada, pode lesionar células humanas. Os pesquisadores montaram dois grupos de camundongos. Enquanto o primeiro foi preservado da poluição, o outro foi exposto a EPFRs. Depois, todos os animais receberam um vírus da gripe.

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A exposição aos EPFRs foi muito prejudicial ao segundo grupo: mais de 20% de seus membros morreram de gripe. Seus organismos, em vez de reagir, desativaram as defesas contra a infecção. Os EPFRs causaram ainda estresse oxidativo, um desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade do corpo de combater seus efeitos prejudiciais. Transpondo os resultados para seres humanos, Stephania avalia que a poluição aumenta os riscos da asma e da gripe em faixas mais vulneráveis, como crianças e idosos.

O segundo estudo, do Instituto para a Mente em Desenvolvimento do Hospital Infantil de Los Angeles e do Centro de Saúde Ambiental Infantil da Universidade de Columbia, ligou deficiências cognitivas e comportamentais aos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), comuns em várias emissões, como as de cigarros, motores de veículos, consumo de petróleo e carvão, incineração de resíduos perigosos, incêndios florestais e queimadas agrícolas.

Os cientistas selecionaram 40 jovens oriundos das minorias latino-americana e afro-americana, seguidos desde o nascimento por pesquisadores de Columbia, e mediram seus cérebros por ressonância magnética. A equipe de Columbia já havia mostrado, num estudo anterior, que a exposição aos HAPs na gestação nesse grupo se ligava a vários distúrbios do desenvolvimento neurológico, como atraso no desenvolvimento aos 3 anos de idade, QI verbal reduzido aos 5 anos e sintomas de ansiedade e depressão aos 7 anos.

Os pesquisadores detectaram uma perda da substância branca na superfície do cérebro, relacionada ao processamento mais lento de informações e a problemas comportamentais graves, como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e agressividade. Eles notaram ainda que a exposição pós-natal aos HAPs (medida aos 5 anos de idade) contribui para perturbações adicionais no desenvolvimento da substância branca em uma área do cérebro associada a concentração, raciocínio, capacidade de julgamento e de resolução de problemas.

Para Bradley Peterson, diretor do Instituto para a Mente em Desenvolvimento do Hospital Infantil de Los Angeles e líder do estudo, em áreas menos urbanizadas, a exposição a poluentes oriundos de incêndios, queimadas agrícolas e depósitos de resíduos perigosos pode ser mais relevante, e nesse caso as mulheres e as crianças devem ficar em casa e usar o ar-condicionado tanto quanto possível para evitar essas substâncias. Nem no campo, portanto, se escapa da poluição.

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