A verificação de fatos funciona para reduzir as falsas crenças em todo o mundo, de acordo com um novo estudo realizado em quatro países. Seus resultados foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os pesquisadores descobriram que a verificação de fatos funcionou com pouca variação na Argentina, Nigéria, África do Sul e no Reino Unido, e os efeitos positivos ainda eram detectáveis ​​duas semanas depois.

Ainda mais encorajador, não houve evidência de um efeito “tiro pela culatra” da verificação de fatos, disse Thomas Wood, coautor do estudo e professor assistente de ciência política na Universidade Estadual de Ohio (EUA). Wood conduziu o estudo com Ethan Porter, professor assistente de mídia e relações públicas na Universidade George Washington (EUA).

“Quando começamos o trabalho de desinformação, cerca de cinco anos atrás, era consenso que corrigir a desinformação não era apenas ineficaz, mas agravava o problema e tornava as pessoas mais enraizadas em suas falsas crenças”, disse Wood. “Não encontramos nenhuma evidência disso nesses quatro países. O que descobrimos foi que a verificação de fatos pode ser uma ferramenta muito eficaz contra a desinformação.”

Covid-19 e mudanças climáticas

Os pesquisadores trabalharam com organizações de checagem de fatos nos quatro países que fazem parte da International Fact-Checking Network, organização que promove checagem de fatos não partidária e transparente. Eles avaliaram cinco checagens de fatos exclusivas para cada país e duas – relacionadas à covid-19 e às mudanças climáticas – que foram testadas nos quatro países.

As checagens de fatos em cada país, feitas em setembro e outubro de 2020, cobriram uma ampla gama de desinformação, incluindo política local, crime e economia.

Alguns dos 2 mil participantes em cada país receberam apenas fake news, enquanto outros receberam a desinformação seguida pelas correções reais usadas por organizações locais de verificação de fatos em resposta à desinformação.

Eles então avaliaram o quanto acreditavam na declaração falsa em uma escala de 1 a 5.

Em cada país, os membros de um grupo de controle não receberam nenhuma desinformação ou declarações corretivas, mas simplesmente avaliaram o quanto acreditavam nas declarações.

Quando comparada à desinformação, cada checagem de fatos produziu crenças mais precisas, enquanto a desinformação nem sempre levou a crenças menos precisas quando comparadas aos controles.

Menos convincente

Os resultados mostraram que as checagens de fatos aumentaram a precisão dos fatos em 0,59 ponto na escala de cinco pontos. A desinformação diminuiu a precisão factual em menos de 0,07 na mesma escala.

“A desinformação é muito menos convincente do que a informação corretiva, em geral”, disse Wood.

Em três dos países (África do Sul, Argentina e Reino Unido), os pesquisadores voltaram duas semanas depois e perguntaram aos participantes o quanto eles acreditavam nas declarações falsas que avaliaram anteriormente. Os resultados mostraram que os efeitos positivos da verificação de fatos ainda eram robustos duas semanas depois.

Dois tópicos foram testados em todos os quatro países. Um envolveu a mudança climática, testando o quanto as pessoas acreditavam na falsa declaração, comumente compartilhada na época, de que houve dois anos de resfriamento global recorde entre 2016 e 2018. Outro testou a falsa declaração, que foi amplamente compartilhada perto do início da pandemia de covid-19, que fazer gargarejo com água salgada evitaria a infecção com o coronavírus.

Os resultados mostraram que a exposição à desinformação sobre as mudanças climáticas não fez com que as pessoas fossem menos precisas sobre o assunto. Mas a desinformação sobre covid-19 reduziu a precisão em três dos quatro países e teve os maiores efeitos de desinformação encontrados no estudo. No entanto, as checagens de fatos ajudaram a aumentar a precisão nessa questão.

Influência das crenças políticas

Todos os participantes também completaram medições de suas crenças políticas, para ver se isso influenciava o modo como eram influenciados por checagens de fatos.

Os resultados mostraram que as reações dos participantes às checagens de fatos estavam conectadas às suas crenças. Mas em nenhum caso um grupo ideológico se tornou mais impreciso porque foi exposto a uma correção.

“Algumas correções não melhoraram a precisão de alguns grupos ideológicos, mas não provocaram nenhum tiro pela culatra”, disse Wood. “No geral, as crenças dos adeptos da esquerda, centro e direita se tornaram mais precisas por checagem de fatos, mesmo quando os tópicos tinham carga política.”

Wood observou que os estudos sugerindo que a verificação de fatos pode sair pela culatra foram feitos principalmente nos Estados Unidos e em países como eles – o que os pesquisadores chamam de amostras Weird (sigla em inglês para ocidentais, educados, industrializados, ricos e democratas, que também significa ”estranho”).

Ferramenta poderosa

Pessoas em países com essas populações Weird, onde a ideologia política desempenha um papel importante nas crenças, podem se comportar de maneira um pouco diferente daquelas em outras partes do mundo. Na verdade, no novo estudo, os efeitos corretivos da verificação de fatos foram menores no Reino Unido, que é o país mais Weird dos quatro, disse Wood. “Pessoas em países menos ideológicos serão mais aderentes aos fatos”, disse ele.

Mesmo assim, Wood enfatizou que este estudo mostrou que a checagem de fatos foi valiosa em quatro países com diferenças raciais, econômicas e políticas. “A verificação dos fatos é uma ferramenta poderosa”, disse ele.

Esses resultados serão especialmente importantes à medida que as vacinas contra a covid-19 se tornem mais acessíveis em lugares como a África, disse ele. Embora a desinformação perigosa sobre a segurança e eficácia da vacina também possa ocorrer, o estudo sugere que um programa rigoroso de verificação de fatos nas redes sociais e em outros lugares pode ser eficaz no combate a falsidades.

“Essas populações podem ser ainda mais receptivas a correções de desinformação do que aquelas de países mais ricos e industrializados, onde a ideologia é mais importante”, disse Wood.