Acabou o sossego

As Ilhas Cook – um país formado por 15 pequenas ilhas entre a Nova Zelândia e o Havaí – podem ter encontrado a redenção financeira: em troca de uma participação acionária, vão regulamentar o acesso de mineradoras ao seu rico subsolo marinho. Ali estão cerca de 10 bilhões de toneladas de nódulos de manganês, que também contêm níquel, cobre, cobalto e terras-raras (minerais usados em aparelhos eletrônicos). Segundo Mark Brown, ministro das Finanças, explorar esses recursos multiplicará por 100 o PIB local. O plano é usar robôs, em 2018, para extrair os minérios, num método ainda não testado em grande escala. A ideia arrepia os ambientalistas que temem danos às praias do país e ao ecossistema marinho. O turismo é a maior indústria local.

 

 

Frankenburguer

O primeiro hambúrguer feito em laboratório com células-tronco bovinas (ver PLANETA 490) foi saboreado em agosto, em Londres. Frito pelo chef Richard McGeown, o frankenburger sintético foi provado pela pesquisadora austríaca Hanni Rutzl e pelo jornalista americano Josh Schonwald (autor do livro The Taste of Tomorrow: Dispatches from the Future of Food, “O Sabor de Amanhã: Notícias do Futuro da Comida”, em tradução livre). Schonwald considerou-o “não desagradável” e com gosto entre “um hambúrguer de soja e um McDonald’s”. Hanni disse que tinha “um sabor intenso”, embora faltasse tempero. Resultado de pesquisas feitas desde 2008, na Universidade de Maastricht (Holanda), pelo biólogo Mark Post, o hambúrguer sintético poderá revolucionar a área de alimentos – se for barateado, é claro. O frankenburger resulta de um investimento de US$ 330 mil, doados pelo empresário Sergey Brin, um dos criadores do Google. Atualmente, a produção de carne ocupa mais de 50% da capacidade agrícola mundial, proporção que tende a subir com a adição de novos consumidores, como na China, e gera grandes emissões de metano, um dos gases mais nocivos do efeito estufa.

 

Baratas antiaçúcar

As baratas não apenas resistem a explosões nucleares como evoluem a ponto de saber evitar pesticidas fabricados para matá-las. Em um trabalho publicado na revista Science, o entomologista Jules Silverman, da Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA), mostrou que uma cepa de baratas alemãs encontrada na Flórida perdeu o gosto por alimentos doces nos anos 1980, para escapar de inseticidas que usavam iscas açucaradas. A tendência se alastrou tão rapidamente que em cinco anos esses inseticidas se tornaram inúteis. Hoje em dia, descendentes dessas baratas (menores que as comumente encontradas no Brasil) já foram vistas na Califórnia, na Coreia do Sul e na Rússia.

 

 

Queijo de Minas

Em agosto, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade, e o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, assinaram uma instrução fixando novos critérios destinados a simplificar o registro de queijos artesanais produzidos a partir de leite cru – como o queijo da Canastra. Com isso, quem produz a iguaria maturada em até 60 dias poderá vendê-la em todo o país. Antes, só queijarias em regiões e propriedades certificadas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal podiam comercializar o queijo.

 

 

Emprego para autistas

A gigante alemã de software SAP AG planeja contratar autistas para aproveitar suas habilidades no processamento de informações. O autismo é caracterizado por dificuldades em comunicar-se, indiferença emocional e comportamento rígido, mas portadores de distúrbios leves resolvem operações matemáticas complexas como muita facilidade. De olho em 65 mil autistas alemães, a SAP “vê uma vantagem competitiva para alavancar os talentos únicos de pessoas com autismo”.

 

Adão e Eva genéticos

Quase todos os homens atuais descendem de um indivíduo que viveu entre 125 mil anos e 156 mil anos atrás, indica uma pesquisa da Universidade Stanford, na Califórnia (EUA), publicada em agosto na revista Science. A descoberta surgiu da mais completa análise genética já feita do cromossomo Y (específico do sexo masculino). Foi analisado o genoma de 69 homens de sete populações, como os bosquímanos africanos e os iacutos da Sibéria. A pesquisa mostra que uma ancestral comum das mulheres teria vivido na África entre 99 mil e 148 mil anos atrás e, embora contemporânea do “Adão” genético, provavelmente nunca o conheceu. Os cientistas salientam que esses “Adão” e “Eva” não eram os primeiros humanos na Terra, mas sim os dois, entre milhares, cujas linhagens masculina ou feminina prosseguem até hoje. A equipe de Stanford vai analisar, agora, o genoma de 2 mil homens.

 

Progresso nos municípios

Para quem tinha o baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDMH) de 0,493 em 1991, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), nas duas últimas décadas houve uma grande evolução no Brasil: segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013, o país chegou em 2010 à média de 0,727, que o classifica como de alto desenvolvimento humano. O crescimento no período chegou a 47,8%.

O IDHM é o resultado da análise de 180 indicadores socioeconômicos dos censos do IBGE de 1991, 2000 e 2010. O estudo, realizado em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro, é dividido em três dimensões: oportunidade de viver uma vida longa e saudável (longevidade), acesso a conhecimento (educação) e padrão de vida com necessidades básicas satisfeitas (renda). O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano.

Em 1991, 85,5% dos 5.565 municípios brasileiros registravam IDHM muito baixo; em 2010, eram apenas 0,6%. Somente 0,8% dos municípios atingia o índice médio em 1991, e não havia nenhum com índice alto.

Já em 2010, a soma das duas categorias atingiu 74%. O progresso veio com o crescimento de municípios menos desenvolvidos das regiões Norte e Nordeste.?“O Brasil era um dos países mais desiguais do mundo. Continua sendo, mas houve uma nítida melhora”, afirma Marcelo Néri, presidente do Ipea e ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Com crescimento de 23,2% entre 1991 e 2010, o IDHM Longevidade foi o principal fator a impulsionar o índice absoluto brasileiro. Em média, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou 9,2 anos nesses 20 anos, passando de 64,7 para 73,9. A renda per capita mensal subiu R$ 346,31 no período (aumento de 14,2%). Mas 90% dos municípios brasileiros ainda figuram na categoria de baixo e médio desenvolvimento nesse tópico. A diferença entre os extremos – São Caetano do Sul (SP), com renda per capita mensal de R$ 2.043,74, e Marajá do Sena (MA), com R$ 96,25 – é abissal: 20 vezes.

O IDHM Educação passou de 0,278, em 1991, para 0,637, em 2010 – um acréscimo de 129,1%, robusto mas ainda insuficiente. A evolução foi impulsionada pelo aumento de 156% no fluxo escolar da população jovem no período. Melhoramos, mas temos que avançar.

 

Vacina adesiva

O pesquisador Mark Kendall, da Universidade de Queensland (Austrália), desenvolveu um nanoadesivo que, colado na pele, serve para a aplicação de vacinas. A novidade já foi testada com sucesso pela equipe do cientista para o tratamento da gripe. O nanoadesivo pode baratear enormemente as vacinas e facilitar a aplicação em locais sem condições de armazenar o medicamento na temperatura certa. Segundo Kendall, a invenção pode ser guardada a 23°C por até um ano.

 

 

Lolita virtual

Pesquisadores espanhóis criaram um programa de computador que se passa por uma garota de 14 anos, com o objetivo de ajudar na captura de pedófilos nas redes sociais. O programa, denominado Negobot, faz a personagem entrar nas salas de bate-papo como uma participante neutra e passiva. Conforme a conversa ganha ares mais íntimos ou sugestivos, “ela” passa a se mostrar mais insistente ou ofendida, e busca extrair informações que levem ao seu interlocutor. Para aumentar o realismo, a personagem possui sete diferentes tipos de conversação, escreve abreviaturas e comete erros de linguagem, tal como uma adolescente comum. A polícia de uma província espanhola já se mostrou interessada no invento.

 

Hospital cruzado

Um grande hospital da época das Cruzadas foi descoberto na parte velha de Jerusalém. Até dez anos atrás, um setor da construção – hoje pertencente à Waqf, a autoridade de bens inalienáveis islâmicos – servia como mercado de frutas e verduras. Desde então, estava abandonado. A intenção de montar um restaurante no local levou a Autoridade de Antiguidades de Israel a fazer escavações que revelaram uma edificação maior e uma galeria de arcos de seis metros de altura, erguida entre os séculos XI e XIII. O hospital ocupava 1,5 hectare, foi construído por uma ordem militar, a Ordem de San Juan do Hospital em Jerusalém, e atendia 2 mil pacientes, de diferentes religiões. Em 1457, um terremoto derrubou boa parte do edifício, cujas ruínas ficaram soterradas até o início do século XX.

 

 

Tempo quente

Quem não está gostando das surpresas climáticas dos últimos anos pode se preparar: elas devem ficar mais drásticas no Brasil até o final do século, com a temperatura média subindo entre 3°C e 6°C. O alerta é do primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Um grupo de 345 cientistas de diversas áreas, presidido pelo pesquisador Carlos Nobre, avaliou cenários de menor ou maior emissão de gases do efeito estufa, num trabalho com metodologia similar à desenvolvida globalmente pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Segundo Nobre, a pesquisa oferece uma “avaliação neutra, sem achismos, baseada em evidências científicas, com um enorme detalhamento sobre o que é importante para nós”. Elaborado a partir de dados recentes sobre os impactos das mudanças climáticas, inseridos no supercomputador Tupã (ver reportagem “A equação do clima”, em PLANETA 487), o relatório faz previsões amargas. Até 2100, as principais alterações ocorrerão na Amazônia, cuja imagem luxuriante está ameaçada: sua precipitação média de chuvas poderá cair até 40%. O mesmo índice deverá empurrar a Caatinga para a desertificação. O Cerrado e o Pantanal também verão as taxas pluviométricas baixarem até 35%. Já os Pampas, no Sul, e a Mata Atlântica, no Sudeste, enfrentarão uma intensificação das chuvas de até 30%.

 

 

Adeus à campeã

Depois de 56 anos, em dezembro a Volkswagen vai deixar de fabricar a Kombi (o veículo mais antigo em produção no Brasil e no mundo). Líder de vendas no segmento furgões desde 1957, com 13.212 unidades comercializadas em 2013 (mais que o dobro da vice-líder Fiat Ducato), ela será aposentada porque sua estrutura não comporta airbag, item de segurança obrigatório em todos os veículos fabricados no país. A despedida, porém, terá requinte: em agosto, começou a ser vendida uma versão especial, a Last Edition, com 600 unidades estilo “saia e blusa”, nas cores azul e branca, com cortinas azuis nas janelas, bancos de vinil e acessórios especiais. A empresa acredita que a diferenciação justificaria o preço de R$ 85 mil, R$ 35 mil a mais do que a versão normal. No ABC paulista, a linha de montagem da Kombi vai trabalhar com hora extra para acumular estoques até março de 2014, data-limite para as vendas.