Barreira superada

Céu poluído em Nova Délhi (Índia) em outubro: a taxa de gás carbônico na atmosfera passou de 400 ppm um mês antes e, pelo visto, levará muito tempo para cair (Foto: AFP)
Céu poluído em Nova Délhi (Índia) em outubro: a taxa de gás carbônico na atmosfera passou de 400 ppm um mês antes e, pelo visto, levará muito tempo para cair (Foto: AFP)

Quando a humanidade do futuro estudar o Antropoceno – a era geológica marcada pela atividade humana –, setembro de 2016 merecerá um destaque. Foi nesse mês que a concentração de gás carbônico na atmosfera superou a marca de 400 partes por milhão (ppm), um caminho sem volta por muito tempo, segundo os cientistas. A certeza quanto a isso vem do fato de que é em setembro que os níveis de CO2 na atmosfera estão mais baixos, por causa do verão no hemisfério norte (que tem mais terras emersas), quando as plantas crescem e absorvem esse gás de efeito estufa. O índice de setembro registrado no Observatório de Mauna Loa, no Havaí, referência no setor, caiu, mas não abaixo de 400 ppm. “É possível que outubro produza um valor mensal inferior a setembro e volte para abaixo de 400 ppm? Quase impossível”, escreveu o cientista Ralph Keeling, responsável pelo programa de monitoramento de CO2 do Instituto Scripps de Oceanografia (EUA). “Breves excursões para valores mais baixos são possíveis, mas já parece seguro concluir que não veremos um valor mensal abaixo de 400 ppm neste ano – ou nunca mais num futuro indefinido.” Com isso, a meta de elevação máxima da temperatura em 1,5° C em relação aos níveis pré-industriais definida na COP21, em Paris, parece seriamente comprometida. E, para complicar mais a situação, o novo presidente dos EUA, Donald Trump, nega o aquecimento global e poderá anular pelo menos boa parte do legado ambiental de Barack Obama.

 

1_pl527_voltaaomundo3bilhão de dólares será a dotação do fundo anunciado em novembro por dez das maiores petroleiras do mundo para cortar o impacto do petróleo e do gás na mudança climática. O objetivo seria reduzir vazamentos de gás natural e desenvolver tecnologia para capturar e armazenar emissões de carbono derivadas da queima do gás para a produção de eletricidade.

 

Bem acima do limite

Emissões de gases-estufa elevadas garantem a ocorrência de mais eventos extremos como tempestades (Foto: iStockphoto)
Emissões de gases-estufa elevadas garantem a ocorrência de mais eventos extremos como tempestades (Foto: iStockphoto)

A superação da marca de 400 partes por milhão de CO2 na atmosfera em setembro (veja a nota acima) já indicava que o combate ao aquecimento global não corre conforme o desejado. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgado em novembro sublinhou o problema, ao alertar que os compromissos feitos pelos governos nesse sentido deverão levar a uma elevação de 3° C na temperatura média da Terra em relação aos níveis pré-Revolução Industrial – bem acima dos 2° C definidos na Conferência de Paris do ano passado. Segundo o texto, as emissões precisam ser reduzidas em pelo menos 25% até o fim da próxima década na comparação com as tendências atuais. Por enquanto, a previsão é que em 2030 as emissões fiquem entre 54 e 56 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano; para o aumento não superar 2° C, elas deveriam ser de 42 gigatoneladas.

 

Em defesa das touradas

Tourada: a Catalunha não quer, mas os juízes de Madri não aceitam a recusa (Foto: iStockphoto)
Tourada: a Catalunha não quer, mas os juízes de Madri não aceitam a recusa (Foto: iStockphoto)

O governo da Catalunha (nordeste da Espanha) havia banido as touradas pelos maus-tratos aos animais desde 2010, mas a corte constitucional espanhola discorda da decisão. Alegando que a “preservação da herança cultural comum” é responsabilidade do estado e que o parlamento catalão se excedeu na sua autoridade, 9 dos 12 juízes da corte cancelaram a proibição em outubro. Em seu lugar, definiram que o governo local poderia “regular o desenvolvimento das touradas” ou “estabelecer requerimentos para cuidados e atenções especiais aos touros” usados. O governo catalão já avisou que não vai seguir a determinação. Uma enquete online do jornal La Vanguardia, de Barcelona (a principal cidade da região) revelou que 68% dos entrevistados se opõem à medida dos juízes.

 

Novo explorador cósmico

James Webb: agora na fase de testes (Foto: Nasa)
James Webb: agora na fase de testes (Foto: Nasa)

O Telescópio Espacial James Webb, mais ambicioso projeto do gênero da Nasa, começou a ser construído há quase 20 anos e quase foi cancelado pelo Congresso dos Estados Unidos em 2011, por causa de atrasos e problemas de orçamento. Mas o substituto do já lendário Hubble enfim está pronto, dotado de tecnologia de ponta, e em novembro a Nasa começou a testá-lo. Orçado em US$ 8,8 bilhões, o James Webb possui avançados equipamentos para captar radiação infravermelha, capazes de investigar o passado remoto do universo. Seu espelho primário é mais de cinco vezes maior do que o do Hubble, o que lhe permite captar objetos mais distantes e mostrar planetas de modo mais detalhado. O telescópio entrará agora numa fase de dois anos de testes, até seu lançamento, em outubro de 2018.

 

Prejuízos da preocupação

Para alguns, afligir-se com uma doença pode originar um problema cardíaco (Foto: iStockphoto)
Para alguns, afligir-se com uma doença pode originar um problema cardíaco (Foto: iStockphoto)

Segundo um estudo norueguês publicado em novembro na revista British Medical Journal, pessoas com boa saúde tendem a aumentar o risco de ter moléstias cardíacas se mostram preocupação com o desenvolvimento de uma doença. A pesquisa, feita com mais de 7 mil indivíduos durante 12 anos, revelou que os mais ansiosos em relação à saúde no início dos registros tinham uma propensão 70% maior de desenvolver problemas cardíacos do que os que não manifestavam essa característica. Os cientistas também verificaram que, quanto maior era a ansiedade relatada, maior o risco de doença cardíaca. Para eles, monitorar a saúde dessas pessoas com grande frequência e submetê-las a exames constantes pode ter efeito contrário ao desejado.

 

Bomba genética

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Fumar é um hábito extremamente danoso ao DNA, conclui um estudo americano e britânico publicado em novembro na revista Science. O consumo de um maço de cigarros por dia causa, em média, 150 mutações prejudiciais por ano nas células pulmonares. Já se sabia que o cigarro está relacionado a pelo menos 17 tipos de câncer, mas ainda não se sabia como o tabaco causava esses tumores. Segundo os pesquisadores, do Wellcome Trust Sanger Institute (Reino Unido) e do Los Alamos National Laboratory (EUA), o maior número de mutações genéticas foi registrado no tecido pulmonar, mas elas não se limitaram a essa parte do organismo. Confira abaixo os órgãos onde a pesquisa detectou mutações.

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Trabalho fatal

Estresse e menos controle sobre o trabalho elevam o risco de mote (Foto: iStockphoto)
Estresse e menos controle sobre o trabalho elevam o risco de mote (Foto: iStockphoto)

Quanto menos controle uma pessoa tem sobre seu trabalho, maiores são os riscos de que ela morra, afirmam cientistas americanos em um estudo divulgado em outubro. Ao avaliarem durante sete anos mais de 2 mil moradores do estado de Wisconsin, pesquisadores da Universidade de Indiana descobriram que “aqueles em empregos altamente estressantes com pouco controle sobre seu fluxo de trabalho morrem mais cedo ou são menos saudáveis do que aqueles que têm mais flexibilidade e discrição em suas ocupações e podem delimitar suas próprias metas como parte do emprego”. Os primeiros apresentam uma tendência 15,4% maior de morrer do que os últimos. Quem pode escolher quando fazer uma parada ou ir buscar um café, por exemplo, vive mais do que os colegas submetidos a regras mais rígidas. O estudo sugere ainda que as empresas encorajem a “elaboração do trabalho”, um processo pelo qual os funcionários ajudam a moldar um trabalho significativo e produtivo para si mesmos, no qual possam definir metas.

 

Disseminação do HIV

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A epidemia global de HIV e Aids começou em Nova York por volta de 1970, conclui um estudo genético americano divulgado em outubro na revista Nature. Os pesquisadores examinaram amostras congeladas de sangue retiradas de pacientes anos antes que o vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Aids, fosse reconhecido, e retiraram material genético do vírus. O material revelou que o HIV estava circulando em grande escala durante os anos 1970. “Podemos datar o salto da doença nos Estados Unidos entre 1970 e 1971”, afirma Michael Worobey, especialista na evolução de vírus da Universidade do Arizona. “O HIV se disseminou em um grande número de pessoas muitos anos antes de a Aids ser notada.” A partir do material examinado, os pesquisadores calculam que a doença foi de Nova York a San Francisco, na Califórnia, por volta de 1976.

 

Café ouriço

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Um café aberto recentemente em Tóquio, a capital do Japão, investe no interesse de clientes por pequenos animais, mas a aposta nesse caso é um tanto peculiar: o Harry Hedgehog Café oferece aos fregueses um contato próximo com ouriços. Quem quiser pode brincar por 30 minutos com esses mamíferos miúdos, que fazem do próprio corpo uma bola como forma de defesa. O preço é diferenciado: nos dias de semana, a meia hora de diversão custa cerca de US$ 10; nos fins de semana e feriados, a conta sobe para US$ 13.

 

Marfim em toras

Apreensão no Vietnã: contrabando criativo (Foto: Divulgação)
Apreensão no Vietnã: contrabando criativo (Foto: Divulgação)

A criatividade dos contrabandistas de marfim segue em alta. No fim de outubro, uma carga de quase meia tonelada de presas de elefantes africanos foi encontrada por policiais vietnamitas dentro de toras de madeira provenientes do Quênia. O carregamento, destinado ao porto de Cat Lai, na Cidade de Ho Chi Minh (a maior e mais populosa do Vietnã), foi o terceiro maior apreendido no local em menos de um mês. As presas de elefantes são um ativo precioso para os caçadores clandestinos, que matam os animais e vendem o marfim a preços elevados para utilização na medicina tradicional chinesa.

 

Desafio da energia

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Sediada na Holanda e presente em 50 países, nos quais atua nas áreas de saúde, nutrição e química, a empresa DSM lançou em outubro a campanha Bright Minds Challenge, que convida os participantes a apresentar em vídeo projetos inovadores com foco em energia solar e armazenamento de energia. As inscrições devem ser feitas até 17 de janeiro de 2017 no site sciencecanchangetheworld.org. Internautas votarão no material postado de 23 de janeiro ao fim de fevereiro de 2017; em abril, os dez vídeos mais indicados serão apresentados ao vivo a um júri na Europa. Dali sairão três projetos, cuja colocação será divulgada em um evento em junho.
1_pl527_voltaaomundo14crateras lunares receberam impactos recentes, de acordo com um estudo de pesquisadores das universidades Cornell e do Estado do Arizona (EUA) divulgado em outubro na revista Nature. As pedras espaciais responsáveis pelas marcas mediam entre 30 centímetros e 42 metros. A descoberta mostra que o solo da Lua sofre mudanças constantes com as colisões.

 

Envelhecimento à espanhola

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As previsões sobre o processo de envelhecimento da população japonesa já encontram paralelos no Ocidente. Segundo um estudo do escritório nacional de estatística da Espanha, a pequena taxa de natalidade e a alta expectativa de vida deixarão o país 11% menos populoso em 2050 do que hoje, com predominância de velhos e solteiros. Mas o quadro pode não ser tão sombrio, advertem os demógrafos: a imigração da primeira década do século, oriunda da América Latina, do Norte da África e de outros pontos da Europa, aumentou as taxas de natalidade na Espanha, embora a crise econômica local tenha levado centenas de milhares desses migrantes a voltar a seus países de origem e muitos jovens espanhóis tenham viajado em busca de emprego. Felizmente, os idosos atuais não representam um peso econômico: têm situação estável (70% já pagaram suas hipotecas), são grandes consumidores e sustentaram filhos e netos durante a crise econômica. Confira abaixo mais números sobre as mudanças etárias no país ibérico.

5,3 milhões de habitantes a Espanha terá a menos em 2050 do que hoje

11% é a taxa dessa queda

34,6% da população espanhola em 2050 será constituída por pessoas de 65 anos ou mais

250 mil espanhóis, aproximadamente, terão pelo menos 100 anos nessa época

1,7 milhão de crianças com menos de 10 anos de idade viverão no país em meados deste século

28% dos domicílios espanhóis terão apenas um morador em 2050; 33% terão dois

33 anos será a idade média em que as espanholas terão seu primeiro filho; hoje, é 31,9 anos

85 anos é o tempo de vida médio das mulheres espanholas hoje; para os homens, é 80 anos. Em 1900, o tempo de vida médio para os dois gêneros era de 35 anos

 

Trilhões de galáxias

Mais de 90% das galáxias ainda não foram estudadas (Foto:
Mais de 90% das galáxias ainda não foram estudadas (Foto:

Existem cerca de 2 trilhões de galáxias no universo, praticamente 20 vezes mais do que se imaginava antes, afirmam cientistas internacionais em um estudo publicado em outubro na revista Astronomical Journal. O cálculo foi feito a partir de uma modelagem em três dimensões de imagens coletadas durante 20 anos pelo telescópio espacial Hubble. A análise englobou mais de 13 bilhões de anos, bem perto da época em que o Big Bang teria acontecido. “É surpreendente que mais de 90% das galáxias do universo ainda tenham de ser estudadas”, afirma Christopher Conselice, da Universidade de Nottingham (Reino Unido), que liderou o estudo. “Quem sabe quais propriedades interessantes encontraremos quando observarmos essas galáxias com a próxima geração de telescópios?”

 

Imposto antiobesidade

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Em 11 de outubro, Dia Mundial da Obesidade, um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs que os governos deveriam taxar mais as bebidas adoçadas, como refrigerantes, para combater a epidemia global de obesidade e diabete. Segundo funcionários da OMS, um aumento de 20% nos preços desses produtos reduziria seu consumo em proporção semelhante. Para a organização, consumir bebidas menos calóricas é a melhor forma de conter o excesso de peso e prevenir doenças crônicas como a diabete. A obesidade mais que dobrou no mundo entre 1980 e 2014: 11% dos homens e 15% das mulheres são considerados obesos hoje, o que corresponde a mais de 500 milhões de pessoas.

 

Agricultura sob ameaça

África Subsaariana: prejuízo maior (Foto: Shutterstock)
África Subsaariana: prejuízo maior (Foto: Shutterstock)

O relatório Estado da Alimentação e da Agricultura 2016, divulgado em outubro pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), indica que a mudança climática e seu impacto na renda de pequenos agricultores poderão levar à pobreza até 122 milhões de pessoas em 2030. A África Subsaariana sofreria os prejuízos mais pesados. A FAO recomenda “transformações profundas na agricultura e nos sistemas de alimentação e apoio especial para os cerca de 500 milhões de pequenos agricultores do mundo. Segundo o estudo, até 2030 haverá ganhos e perdas na agricultura em função do aquecimento global (uma das vantagens seria poder plantar e colher em áreas mais frias). A partir daí, porém os impactos negativos predominariam.

 

1_pl527_voltaaomundo19de avanço conseguiu uma equipe do Massachusetts Institute of Technology (MIT) na tentativa de criar uma pressão elevada de plasma, passo fundamental para o uso da fusão nuclear na geração de energia. O recorde anterior, de 2005, foi obtido à temperatura de 35 milhões de graus Celsius e durou dois segundos. O anúncio foi feito em outubro no Japão.