Cortar cebola, limpar o chão ou arrumar camas podem render uns dias nas praias da Bahia ou nos fiordes da Noruega, por exemplo. Após a onda do turismo compartilhado de casas, carros, quarto de hotel ou até de passeios – o que não só barateou como melhorou desde o planejamento até a experiência turística –, as vivências mais intensas aliadas à economia seguem agora na direção do turismo colaborativo.

Alojamentos e viajantes agora negociam em uma nova moeda: o trabalho. Aquela gentileza de lavar a louça no local onde somos recebidos se formalizou e virou um bom negócio para todos os lados envolvidos: para quem oferece trabalho, para quem procura hospedagem e para quem une as duas pontas. Seja por economia, seja pela experiência – ou por ambos –, o viajante pode garantir a estadia (e na maioria das vezes o café da manhã) fazendo algum trabalho por certo número de semanas. As atividades na cozinha, de limpeza e de arrumação são apenas algumas das opções mais frequentes. Mas é possível também oferecer mão de obra na mesma área em que se atua profissionalmente.

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Professor, tradutor, contador, cozinheiro, fotógrafo, paisagista ou eletricista estão entre os diferentes perfis solicitados. Analice Sousa Costa, paulista radicada em Trancoso, no litoral sul da Bahia, reformou sua pousada com a ajuda do trabalho de turistas. Não que eles fossem voluntários ou grandes amigos de Analice. Os visitantes apenas trocaram o serviço de pintura de bangalôs por hospedagem, enquanto conheciam as belezas da costa baiana. Com a pousada reformada, o trabalho não acabou. Analice ainda oferece trabalho na recepção, na cozinha e até mesmo para instrutor de ioga. “Eu gosto muito de conhecer gente e a rotina de trabalhar com pessoas diferentes, de lugares diferentes, torna a experiência superpositiva, não apenas economicamente falando”, conta.

Na avaliação de Gilberto Back, coordenador do curso de Hotelaria da Universidade Anhembi-Morumbi, o turismo colaborativo vem ao encontro da ‘era da experiência’ que vivenciamos hoje. “Têm surgido diversas plataformas e aplicativos que possibilitam a produção e compartilhamento de conteúdos na rede. Naturalmente, essa proposta chegou ao mercado turístico, que passou a utilizar essas informações para facilitar viagens e a vivência de diferentes experiências”.

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Apontada como uma das tendências mais marcantes no ramo turístico durante o World Travel Market London, de 2013, um dos mais importantes eventos de turismo mundial, agora essa modalidade de viagem começa a ganhar espaço no Brasil. Plataformas como as inglesas Workaway e Help Exchange, ou simplesmente HelpX, foram vanguardistas e estão há mais de uma década ativas. Visualizando o potencial entre os brasileiros, o paulistano Riq Lima se antecipou à tendência por aqui e, inspirado por suas viagens pelo mundo, criou a plataforma Worldpackers, para fazer a ponte entre viajantes e ‘hospedantes’. E garantiu presença no World Travel Market Latin America, deste ano, em São Paulo. A plataforma reúne atualmente cerca de 70 mil pessoas e estabelecimentos cadastrados em 96 países.

“Sua habilidade ou sua paixão pode ser útil em algum lugar”, afirma Riq em forma de slogan. Após largar o emprego em um banco, Riq passou quatro anos viajando, ora aplicando seus conhecimentos administrativos para organizar uma pousada na Ásia, ora atuando como professor de inglês na África ou ainda como guia turístico em um camping na Europa. “Acho que o turismo colaborativo democratiza as viagens”, opina. A Worldpackers exige que o local ofereça no mínimo a hospedagem e o café da manhã, mas a oferta pode ser estendida para três refeições diárias. Por outro lado, o colaborador deve trabalhar em torno de 20 a 30 horas semanais e entre duas semanas e um mês. Pela segurança do acordo, a plataforma cobra uma taxa de ambas as partes.

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Também de olho nas oportunidades que o turismo colaborativo pode oferecer, o carioca Franz Huber, de 26 anos, partiu para o mundo há pouco mais de um ano. O jovem já visitou 70 países e planeja chegar a 100 até 2018. No caminho para o Vietnã, Franz contou a PLANETA que em Bangkok, na Tailândia, ele ensinou inglês por duas semanas para 45 crianças em troca de hospedagem e alimentação na Tong Thos Foundation. “O turismo colaborativo reduz o custo total da viagem e proporciona situações únicas e especiais”, resume.

Conhecer um índio pataxó que trabalhou como dançarino de lambada na França foi uma das experiências exóticas que o uruguaio Juan Pablo Velazquez guarda do período que passou na Bahia apresentando performances artísticas na pousada em que ficou hospedado. Ele agora replica essa experiência no hostel em que trabalha, no balneário de Punta del Este. “Não tenham medo. Percebam que há milhares de lugares para descobrir e milhões de pessoas incríveis com quem compartilhar tudo isso”, encoraja ele.

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