O presidente da China, Xi Jinping, elogiou nesta sexta-feira (01/07) a postura do governo chinês em relação a Hong Kong durante uma cerimônia que celebrou os 25 anos da restituição da região semiautônoma pelo Reino Unido à China. Na ocasião, também ocorreu a posse do novo governo local.

Xi afirmou que a “verdadeira democracia” em Hong Kong só começou depois do regresso à soberania chinesa, em 1997. Após 156 anos de domínio britânico, o Reino Unido devolveu Hong Kong ao domínio chinês em 1º de julho de 1997, com Pequim prometendo ampla autonomia, direitos individuais e independência judicial pelo menos até 2047.

No entanto, desde que Pequim impôs uma lei de segurança nacional a Hong Kong, em 2020, após os intensos protestos pró-democracia registrados no ano anterior, a oposição foi praticamente anulada e a maioria das principais figuras que defendiam a democracia fugiram do país, perderam cargos ou foram presas.

A lei prevê penas de prisão perpétua para casos de secessão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras, entre outros. Desde então, foram detidos vários ativistas, políticos da oposição, jornalistas e acadêmicos.

Apesar disso, de acordo com o discurso de Xi, Pequim sempre agiu “pelo bem de Hong Kong”. “Depois de se reunir com a pátria, o povo de Hong Kong se tornou o mestre de sua própria cidade”, disse. “A verdadeira democracia de Hong Kong começou aqui”, completou.

Novo governo de Hong Kong

A viagem de Xi a Hong Kong, fortemente coreografada, foi a primeira do líder chinês fora do continente desde o início da pandemia de covid-19 e a primeira a Hong Kong desde 2017.

A cerimônia de sexta-feira incluiu a posse do novo governo da cidade, liderado por John Lee – um ex-chefe de segurança que supervisionou a resposta da polícia às manifestações de 2019.

“Depois de todas as tempestades, todos aprenderam dolorosamente que Hong Kong não pode cair no caos e Hong Kong não pode permitir o caos”, disse Xi durante a posse. “Deve se livrar de todos os distúrbios e se concentrar no desenvolvimento”.

Lee, de 64 anos, foi eleito no início de maio, sob novo sistema eleitoral, promovido pelo governo central de Pequim em 2021 para garantir que a região semiautônoma fosse governada por patriotas leais ao regime chinês, o que, segundo Xi, deve ser mantido para garantir a prosperidade e a estabilidade da região, acrescentou.

Em seu discurso, Lee afirmou que a lei de segurança nacional e “a melhoria do sistema eleitoral” conseguiram levar Hong Kong “do caos para a prosperidade”.

O novo chefe do executivo prometeu reforçar a integração com a China continental e o papel de Hong Kong como um centro de inovação, para criar uma cidade inclusiva, “com abundância de oportunidades e vitalidade”.

Xi Jinping disse esperar que Lee “mantenha a harmonia e a estabilidade” e reforce a “integração com o plano de desenvolvimento estratégico” da China, assim como “o sentido de identidade nacional” da população de Hong Kong.

Um país, dois sistemas

Esta sexta-feira marca a metade do modelo de governança de 50 anos acordado entre o Reino Unido e a China sob o qual Hong Kong manteria a autonomia e as principais liberdades, conhecidas como “um país, dois sistemas”.

O aniversário costumava ser uma data em que centenas de milhares de moradores participaram de uma marcha para expressar queixas políticas e sociais. Mas, após os protestos pró-democracia iniciados em 1º de julho de 2019, a situação mudou. Nesta sexta, manifestações foram proibidas.

Críticos, incluindo muitas potências ocidentais, dizem que Pequim efetivamente rasgou a promessa de que Hong Kong manteria seu modo de vida após a transferência.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, criticou Pequim nesta sexta-feira por “não cumprir” com as suas obrigações para com a ex-colônia britânica.

A China “entusiasticamente comprometeu-se com o princípio ‘um país, dois sistemas’. Isso significava que, embora muitas coisas mudassem à superfície, as bases sobre as quais Hong Kong assenta permaneceriam praticamente intocadas”, escreveu no Twitter.

Segundo ele, o acordo foi cumprido por um tempo e permitiu a Hong Kong “prosperar e florescer”. Johnson ponderou, porém, que neste 25º aniversário da transferência, não há como “omitir o fato de que, há algum tempo, Pequim renega as suas obrigações”.

Os Estados Unidos e a Austrália também se pronunciaram criticando a erosão das liberdades. Já o governo de Taiwan, constantemente ameaçado pela China, disse que a liberdade e a democracia “desapareceram” em Hong Kong.

Por outro lado, Xi defendeu que não há motivos para mudar o sistema, que, segundo ele, tem o apoio de 1,4 bilhão de chineses e “a aprovação generalizada” da comunidade internacional.

le/cn (AFP, Lusa, Reuters, ots)